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Na abertura dos Jogos Olímpicos aconteceu o maior evento de divulgação científica da história
Mudanças climáticas

por | 13 ago 2016

(Edição feita a partir da reportagem da Agência Fapesp)

Karina Toledo, repórter da Agência Fapesp, foi na mosca: com uma audiência estimada em 3 bilhões de pessoas, foi realizado no Rio de Janeiro, na noite de 5 de agosto último, o maior evento de divulgação científica da história. O tema? Mudanças climáticas globais.

Como isso aconteceu? Em mais ou menos dois minutos do filme roteirizado e dirigido por Fernando Meireles para a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016, belas e impressionantes animações mostraram como o dióxido de carbono (CO2) emitido pelo homem se acumula na atmosfera e termina por causar o aumento da temperatura do planeta, o derretimento das calotas polares e o aumento do nível do mar.

Baseado em modelos científicos, continua Karina, “o filme ilustrou o que pode acontecer até o fim deste século em cidades como Amsterdã (Holanda), Dubai (Emirados Árabes Unidos), Flórida (Estados Unidos), Xangai (China), Lagos (Nigéria) e Rio de Janeiro (Brasil) – caso as emissões de CO2 se mantenham nos níveis atuais”.

Por trás dessa mensagem – e aqui está o que mais nos interessa – estava o trabalho de consultoria dado a Meireles por Tasso Azevedo e Paulo Artaxo. Azevedo, engenheiro florestal, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG) e diretor executivo do Imaflora, tratou do tema floresta. Artaxo, um dos mais premiados cientistas brasileiros em sua área, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), ficou responsável pelas questões científicas referentes às mudanças climáticas.

A sequência pós-desastres do filme mostrou uma das possíveis soluções para o problema, o plantio de árvores, muitas árvores, capazes de sequestrar parte do carbono emitido e fixá-lo na biosfera. Foi essa a inspiração para a ideia de cada atleta plantar, durante a cerimônia, uma semente de diferentes espécies de planta, distribuídas de acordo com a nacionalidade dos competidores, numa forte mensagem simbólica. Posteriormente, já transformadas em 11 mil mudas, elas serão transferidas para o Parque Radical construído no Complexo Esportivo de Deodoro, e vão formar a Floresta dos Atletas.

 

Veja os detalhes da consultoria contados diretamente por Artaxo na entrevista à Agência FAPESP:

O Fernando Meirelles é um cineasta bastante sensível às questões ambientais e teve a ideia de incluir o tema das mudanças climáticas na cerimônia de abertura. A equipe dele me procurou para auxiliar na tarefa, de modo que não houvesse nenhum deslize científico na mensagem que seria transmitida no filme final. Meu papel foi selecionar produtos científicos confiáveis, como gráficos e animações. Fui atrás das melhores e mais atuais referências, como os produtos usando os mapas de elevação de terreno produzidos pelo United States Geological Survey e pelo International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP). Principalmente em relação ao aumento do nível do mar, há alguns sites que exageram na questão e sugerem que o planeta inteiro pode ficar embaixo d’água, mas não é o que vai acontecer. São necessárias fontes de informações básicas, modelos confiáveis e isso não é algo trivial. Houve a preocupação de abordar a questão de maneira leve, afinal era uma festa de abertura, mas, ao mesmo tempo, passar a mensagem de que temos de cuidar do nosso planeta com urgência. Logo após a sessão dedicada à mudança climática veio o tema das florestas, que contou com a consultoria de Tasso Azevedo.

 

A ideia era contar uma história e, assim, tratar das principais questões relacionadas às mudanças climáticas: aumento da temperatura do planeta, sua relação com as emissões de CO2 e de aerossóis resultantes das atividades humanas e, por último o aumento do nível do mar. Acho que o resultado final deu muito certo e ajudou a mostrar que o Brasil não se resume a samba, carnaval e Gisele Bündchen, mas também está envolvido seriamente nas questões científicas globais. Penso que tão importante quanto produzir ciência de qualidade é trabalhar para a disseminação desse conhecimento para toda a sociedade – não apenas para a comunidade acadêmica e os formuladores de políticas públicas. Acredito que a mensagem, durante a cerimônia de abertura, foi passada de modo que mesmo as pessoas sem qualquer formação científica puderam compreender e isso é extremamente importante.

 

Desde o terceiro relatório do IPCC, divulgado há cerca de 15 anos, tem sido falado claramente que se não houver uma redução na emissões de gases-estufa haverá um aumento significativo na temperatura do planeta. Foi somente depois de 2007, quando o IPCC ganhou o Nobel da Paz, que o tema das mudanças climáticas ganhou visibilidade. Agora, o Acordo de Paris deixou claro que a humanidade vai atuar nessa questão para minimizar os impactos. Se o fará na velocidade necessária e da forma necessária, ninguém sabe. O fato é que os políticos, em geral, respondem às demandas da população que os elege. Mas há também fortes interesses econômicos e políticos envolvidos. E o setor de exploração de petróleo e carvão ainda é um dos maiores setores econômicos do planeta. É preciso haver muita pressão por parte da sociedade, muita política pública bem elaborada e ação governamental coordenada. No Acordo de Paris, cada país está adotando a sua meta nacional de redução de emissão de carbono, o que é absolutamente estratégico para o planeta. Claro que os compromissos feitos até o momento não são suficientes para garantir clima estável ao longo das próximas décadas, mas esperamos que os compromissos aumentem conforme se acumulam as evidências de que os impactos podem ser muito importantes, inclusive economicamente. É um complexo jogo entre a sociedade, a economia que move o planeta e os tomadores de decisão. Temos de atuar em todos os níveis e o filme da abertura da Rio 2016 ajudou a divulgar informações cruciais para a população em geral. Deixou uma mensagem inequívoca de que é preciso agir para frear as mudanças climáticas globais.

 

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