Luiza Moura critica a busca por petróleo na margem equatorial atorizada às vésperas da COP30

ilustração: Kairo Rudáh
Eu sempre achei que fosse chegar o dia em que eu ia escrever essa coluna. Só não achei que seria faltando um pouco menos de um mês para o início da COP30, em Belém. Estou falando sobre a bizarra licença que permite que a Petrobras inicie as pesquisas para buscar petróleo na margem equatorial, no norte do país.
No dia 20 de outubro, a licença para pesquisa foi concedida para a Petrobras. Isso significa que, a partir desse momento, a empresa petrolífera está autorizada a procurar petróleo em uma das regiões mais vulneráveis do país, onde um eventual vazamento causaria danos gravíssimos e possivelmente irreversíveis. Técnicos do Ibama inclusive alertaram para os riscos que correm os peixes-boi e os recifes de coral dessa região.
Isso já seria, por si só, um absurdo. Mas, se olharmos para o momento histórico que estamos vivendo, tudo fica ainda mais bizarro. A COP30 vai começar oficialmente no dia 10 de novembro, com a cúpula dos chefes de Estado acontecendo antes, entre os dias 7 e 8. O que temos, então, é o país anfitrião da principal reunião sobre clima do mundo optando por aprofundar a produção de combustíveis fósseis, cuja queima é a principal causa da mudança climática.
Veja bem, sinceramente, o argumento de que “ninguém vai explorar ainda, estamos só fazendo pesquisa” não me interessa muito. Para mim, é inconcebível o país sede da COP30, que tem a maior floresta tropical do mundo, estar cogitando aumentar a sua produção petrolífera em um momento tão crítico da história mundial.
Vale lembrar que o processo de licenciamento foi extremamente conturbado, com o Ibama sendo atacado por diversas partes, inclusive pelo presidente da república — que disse que o órgão estava fazendo lenga-lenga. Nesse processo, tivemos também o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, agindo descaradamente para pressionar a liberação da exploração, da pesquisa, enfim, chamem do que bem entenderem.
Fato é que, nesse momento, ao invés de avançar, o Brasil está regredindo. Como um país que diz querer ser líder da mudança opta por esse tipo de combustível? Como uma empresa que se diz a “líder em transição energética justa” (alô, Camila Pitanga!), escolhe explorar mais petróleo em vez de investir de fato em energia limpa? Qual a imagem que o país sede da COP está passando para o mundo ao escolher furar a margem equatorial faltando menos de 30 dias para a cúpula climática? As respostas chegarão, não tenho dúvidas. Mas quando elas aparecerem talvez já seja tarde demais para agir e mudar a realidade climática do Brasil e do mundo.






