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Mais um difícil semestre pela frente

por | 8 ago 2024

A colunista Tatá encara a crise de mais um início de semstre na graduação de Física da USP

ilustração: @paozinho_celestial

Estou iniciando mais um semestre e tive uma crise de consciência. Me perguntei se deveria (ainda) estar nesse curso e se sou boa o bastante para ele. Normalmente tenho esses pensamentos quando me sinto completamente esgotada, e só piora quando tenho alguma reprovação, algo que aconteceu no último semestre. Não posso fechar os olhos e fingir que está tudo bem e que a graduação está sendo um mar de rosas.

Sempre tive um grande problema com sinceridade, quando era mais nova não tinha exatamente um filtro para conversar com as pessoas. Mas, com o tempo, adquiri tal virtude. Hoje, depois de todas as lapidações da vida, sei que não é um problema e que posso usar esse meu traço como aliado. Então eu nunca vou chegar aqui e dizer que os meus sonhos ainda continuam inabaláveis e que a graduação está ótima.

Não está. E, sinceramente, a quem eu estaria tentando enganar se falasse que está? Com a vida e o amadurecimento, descobri que a cobrança maior é minha. Não é da minha mãe e muito menos do meu pai, porque eles só querem que eu seja feliz.

Eu já falei como temos que aproveitar a única vida que temos e que não podemos vive-la infelizes. Eu não preciso relembrar isso a ninguém, a não ser eu mesma. Tem dias que é impossível pensar com positividade e sonhar com o futuro. Ele parece distante (e talvez realmente esteja) e ao mesmo tempo próximo (paradoxal esse pensamento). E, aos 21 anos, todos esperam que eu faça escolhas para o resto da minha vida.

Ao escolher cursar física, com 16 anos, imaginei ter um percurso linear na universidade. Ainda era só uma menina cheia de sonhos e, como nunca tive dificuldade na escola, iria tirar de letra o ensino superior. Eu imaginava que ia arrasar no curso e, no fim, sou eu que estou sendo arrasada por ele. Entendo todas as minhas desvantagens estruturais em relação à grande maioria dos colegas. Tem dias que bato no peito e falo que eu serei uma mulher negra, periférica e cientista que fará a diferença, mas, em contrapartida, tem dias que eu só quero ficar reclusa e não sentir o peso das escolhas que tomei, porque, de certa forma, o que escolhi viver muda a história da minha família.

Hoje, sou meia física, completei cinco longos períodos do curso, e agora me restam os outros cinco. Nem dá pra acreditar, né? Parece que foi ontem o meu primeiro texto me apresentando, falando como tinha grandes sonhos com a Nasa e coisa do tipo. Meu sonho hoje é só me formar mesmo, algo que tá parecendo difícil o suficiente.

Alguns dias são mais difíceis que outros, é inegável, e tento fazer o melhor que posso neles, mas às vezes não basta. O sentimento de impotência e frustração me envolve de uma forma que até para sair de casa é ruim. É ruim ter que lidar com o mundo lá fora quando o meu mundo interior está um caos.

É ruim sorrir e ser gentil quando não se tem mais esperança. Eu sei que são sentimentos tristes, mas há quem se identifique com eles, só não conseguimos ou não queremos dar nome aos bois porque é mais fácil assim. É mais fácil ignorá-los.

Mas mesmo com as minhas frustrações, reprovações, choros e desespero, eu ainda estou aqui e daqui dois anos e meio (espero eu), poderei falar para mim mesma: “pode parar de nadar, Thaciana. Você chegou à costa”.

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