Bruna Irala, Jornal da USP
Arte: Jornal da USP
Casos sintomáticos de covid se reduziram em 80%, hospitalizações, em 86% e mortes, em 95% em toda a população da cidade
Resultados do Projeto S, estudo clínico de efetividade da vacina CoronaVac realizado em Serrana, interior de São Paulo, mostram que casos sintomáticos de covid-19 caíram em 80%, hospitalizações, em 86% e mortes, em 95% em toda a população da cidade após a aplicação da segunda dose da vacina CoronaVac.
No período do estudo, 27.160 pessoas tomaram as duas doses da vacina, número que representa 95,7% de toda a população adulta serranense, sendo que das 27.722 pessoas que tomaram a primeira dose da vacina, 97,9% tomaram a segunda. A efetividade da vacina foi acompanhada de poucos relatos de efeitos adversos na população adulta vacinada, bem como da proteção indireta de crianças e adultos não vacinados. Destaca-se também a redução de hospitalizações e mortes nos grupos acima dos 70 e dos 80 anos.
A vacinação foi realizada por escalonamento em conglomerados, ou seja, a cidade foi dividida em 25 áreas, formando quatro grupos (verde, amarelo, cinza e azul). A ordem de vacinação seguiu do grupo verde ao azul, com um intervalo de uma semana de um grupo ao outro. Foram oito semanas de vacinação, entre 14 de fevereiro e 10 de abril.
As duas doses da CoronaVac foram aplicadas com um intervalo de 28 dias entre a primeira e a segunda dose.
Segundo Marcos de Carvalho Borges, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e diretor do Hospital Estadual de Serrana, que coordena o estudo na cidade, a vacina começa a ter um efeito protetor significativo a partir da segunda semana após a aplicação da segunda dose, o que reforça a necessidade de completar o processo de vacinação ao tomar as duas doses e manter as medidas de proteção individual.
Em entrevista à Rádio USP, o pesquisador aponta que os efeitos indiretos da vacinação aconteceram quando foram vacinados pelo menos 75% da população-alvo, o que corresponde a aproximadamente 46% da população geral de Serrana. “Do ponto de vista das políticas públicas, isso mostra que provavelmente só iremos conseguir controlar a pandemia quando atingirmos níveis similares de vacinação nas outras cidades”, complementa.
Além do censo populacional, foi realizada uma avaliação imunológica prévia e verificou-se que 25,7% da população serranense teve contato com o vírus sars-cov-2 antes da vacinação.
Durante o período de vacinação, houve 67 eventos adversos graves, não relacionados à vacinação, e 0,02% eventos adversos graves após a primeira dose. Após a segunda dose, houve o relato de 0,2% de eventos adversos não graves.
Casos de hospitalização e óbito por covid-19 entre vacinados em Serrana
Ocorreram 41 internações entre a primeira e a segunda dose da vacina e sete óbitos. Desse grupo, foram 15 internações e cinco óbitos de pessoas acima de 60 anos e 26 internações e dois óbitos de pessoas abaixo de 60 anos. No período de 14 dias após a segunda dose, houve duas internações e um óbito de pessoas acima de 60 anos e três internações e nenhum óbito de pessoas abaixo de 60 anos. Depois do período de 14 dias após a segunda dose, ocorreram duas internações de pessoas abaixo de 60 anos.
Incidência de casos sintomáticos e hospitalizações por covid-19 em Serrana
Antes da vacinação houve um pico de casos sintomáticos na cidade e, após a 8ª semana do estudo, houve uma redução geral de casos sintomáticos e de hospitalizações.
Segundo Borges, foi observado que a redução dos casos, hospitalizações e óbitos ocorreu “tanto em adultos vacinados e não vacinados e nas crianças, o que é chamado de imunidade indireta, ou seja, as pessoas vacinadas também protegeram as não vacinadas”. O grande número de pessoas vacinadas e a consequente redução da transmissão do vírus foram o que contribuiu para esse resultado.
O estudo mostra que a redução dos casos entre adultos também foi acompanhada pela redução dos casos em menores de 18 anos e na população adulta que não pôde ser vacinada. Além disso, entre maiores de 70 e 80 anos também houve uma redução de casos sintomáticos nas pessoas não vacinadas. Hospitalizações e óbitos diminuíram entre maiores de 70 anos.
No total, 75% da população de Serrana foi vacinada e, mesmo antes de receber as doses, os últimos grupos já estavam recebendo os benefícios da vacinação. Mesmo com o trânsito da população em outras regiões, os efeitos da vacina se mantiveram. Segundo o estudo, a vacina CoronaVac também é efetiva em relação à variante P1.
O estudo segue por mais um ano para responder a mais perguntas acerca da sustentação dos resultados.