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Mais de um quarto dos paulistanos adultos teve contato com o Sars-CoV-2

Yuri Vasconcelos, Pesquisa Fapesp

Este é o principal resultado do estudo sorológico realizado na capital paulista; epidemia se alastra com mais força entre os menos favorecidos

Foto: Léo Ramos Chaves

Inquérito epidemiológico domiciliar feito em São Paulo revela que 26,2% dos moradores adultos da capital paulista têm anticorpos contra o Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19. Esse número chega a 30,4% nos distritos mais pobres da capital, a 31,6% entre indivíduos pardos e pretos e a 35,8% entre os moradores menos escolarizados.

Os principais resultados da quarta e mais recente fase do estudo “SoroEpi MSP – Inquéritos soroepidemiológicos seriados para monitorar a prevalência da infecção por Sars-CoV-2 no município de São Paulo” confirmam que a epidemia atinge de forma desigual a população residente na metrópole, alcançando com mais força os menos favorecidos.

Em números absolutos, o estudo avalia que cerca de 2,2 milhões de indivíduos com 18 anos ou mais já foram infectados pelo Sars-CoV-2 – na sua totalidade, essa parcela populacional na capital paulista é estimada em 8,7 milhões de pessoas. Esse número é bem superior aos 343 mil casos confirmados pela prefeitura até 10 de outubro, último dia da coleta de dados da pesquisa. São Paulo tem 12,3 milhões de habitantes, segundo a estimativa mais recente feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em julho.

“A soroprevalência é maior nos distritos mais pobres e entre quem tem até o ensino fundamental”, destacou o biólogo Fernando Reinach, um dos coordenadores do estudo, durante entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (22/10). A soroprevalência significa a frequência de indivíduos que apresentam anticorpos para o novo coronavírus no soro sanguíneo.

“O vírus não se espalhou igualmente pela cidade”, atesta o pesquisador. Nos distritos mais ricos, a taxa de infecção é de 21,6% – nove pontos percentuais abaixo do índice encontrado nas regiões mais pobres.

A pesquisa também mostrou que o índice de contaminação varia conforme a cor dos entrevistados. A soroprevalência na cidade entre pardos e pretos (31,6%) é superior à encontrada entre brancos (20,9%) e amarelos (20,1%).

No quesito escolaridade, a pesquisa revelou que somente 16% dos habitantes da metrópole portadores de diploma superior tiveram contato com o novo coronavírus, percentual que corresponde a menos da metade à taxa dos que têm até o ensino fundamental (35,8%). “O pessoal de ensino superior está se protegendo muito mais”, afirmou Reinach.

Infecção em alta
Nos 73 dias que separaram a terceira fase do estudo, realizada entre 20 e 29 de julho, da atual, ocorrida entre 1o e 10 de outubro, os pesquisadores verificaram mudanças significativas na soroprevalência entre os paulistanos. No fim de julho, a soroprevalência foi de 17,9% – 8,3 pontos percentuais menor do que o resultado de outubro.

“No período entre essas duas etapas, cerca de 700 mil adultos foram infectados pelo Sars-CoV-2 em São Paulo, uma média de 10 mil infecções por dia, de acordo com o nosso estudo”, disse Reinach.

Segundo o pesquisador, a soroprevalência medida nas quatro fases do estudo evoluiu com o número de casos confirmados de Covid-19 pela prefeitura no mesmo período, mas com uma taxa de crescimento menor (ver gráfico).

Metodologia
Para medir a soroprevalência do Sars-CoV-2 no município de São Paulo foram analisadas 1.129 amostras de sangue de moradores de 152 setores censitários. A coleta de dados, realizada em domicílios previamente sorteados, ocorreu entre 1o e 10 de outubro. Os participantes responderam um questionário e tiveram amostras de sangue colhidas por punção venosa. A quantidade de anticorpos anti-Sars-CoV-2 (IgG e IgM) foi medida utilizando um método de quimioluminescência e um teste de eletroquimioluminescência.

Para feitos estatísticos, a cidade foi dividida em duas regiões, uma delas agrupando os distritos com maior renda média e a outra com os de menor renda média (ver infográfico). Cada uma delas corresponde a cerca de metade da população adulta residente. O estudo é conduzido pelo Grupo Fleury, Instituto Semeia, Ibope Inteligência e pela organização não governamental Todos pela Saúde.

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