Aula inaugural foi sobre “As pandemias em perspectiva histórica”
Um curso online aberto para alunos de pós-graduação, que atinge 715 pessoas em seu momento de pico e, durante cerca de uma hora e meia, jamais desce abaixo de 696 assistentes é, sob qualquer métrica, um estrondoso sucesso. E isso é mesmo o que se pode dizer, pelo menos da estreia, do curso Pós-Pandemia, iniciado pela Universidade de São Paulo (USP) na quarta-feira passada, 30 de setembro. Note-se que, da grande plateia virtual, cerca de 200 pessoas eram professores da própria USP e as outras 500, estudantes matriculados e ouvintes tanto da USP quanto de universidades espalhadas pelo país inteiro e até além fronteiras.
A aula inaugural, ministrada por Márcia Castro, professora da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, e mediada por Ester Sabino, professora da USP, apresentou um percurso fascinante sobre “As pandemias em perspectiva histórica”, curiosamente costurado, em vários trechos da história mais recente, por charges de jornal e revistas relativas a grandes desafios de saúde pública [um atrativo especial a mais para o Ciência na rua, que propõe e testa a eficácia comunicativa do humor na ligação entre jornalismo e ciência].
Nesta quarta, 7 de outubro, o tema será “Virologia do Sars-CoV-2 e a resposta imune”. Outros 10 temas serão abordados ao longo de mais 11 semanas, sempre no mesmo dia e horário. Na verdade, esse é apenas o primeiro bloco da proposta, que busca compreender de forma realmente transdisciplinar a atual pandemia, seus grandes desafios, em termos sanitários e sociais amplos, seus desdobramentos imediatos e seu contexto histórico. Um segundo bloco, com número similar de temas e aulas, e de caráter fortemente prospectivo, com a inclusão de áreas de investigação que não entraram no primeiro, como impactos do meio ambiente sobre pandemias, está previsto para o primeiro semestre de 2021.
O curso, cujo nome formal e descritivo é “As crises das pandemias e as oportunidades para a construção de um mundo mais seguro, menos desigual e sustentável”, foi organizado nos últimos dois meses pelo conselho gestor da Rede de Pesquisa Solidária, Políticas Públicas e Sociedade, sob a coordenação do professor Glauco Arbix, titular do Departamento de Sociologia da USP. São também seus professores responsáveis Lorena Barberia e João Paulo Cândia Veiga, do Departamento de Ciência Política, Ester Sabino e José Eduardo Krieger, da Faculdade de Medicina-USP. Esse grupo discutiu na fase de organização com colegas das universidades de Oxford, Columbia, Berkeley e do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), com experiência em cursos semelhantes.
Essa rede formou-se desde o começo da pandemia, de fato, motivada por ela, articulando mais de 70 cientistas brasileiros, em diálogo com colegas estrangeiros, com o apoio institucional do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) e do Centro Brasileiro de Pesquisa e Planejamento (Cebrap). E mais recentemente, o apoio da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP foi fundamental para a viabilização do curso.
A adesão de mais de 60 unidades da Universidade de São Paulo, de todos os seus câmpus, ao curso, certamente mostra uma demanda reprimida, na instituição, por experiências transdisciplinares, ligadas a imensos desafios contemporâneos, urgentes e inesperados, propostos pela sociedade. “Há uma grande fragilidade na estrutura muito estanque da USP, penso que a adesão ao curso fala disso também”, diz Arbix.
Dessa forma, se a ideia original da Rede de Pesquisa Solidária era a de um grupo efêmero, é possível, a partir do Curso de Pós-Pandemia, que se tenha as bases transdisciplinares para a institucionalizar um centro de políticas públicas permanente. Enquanto isso, a Rede segue com as pesquisas, workshops, seminários virtuais e boletins que a transformaram rapidamente numa referência sobre as relações entre pandemia e sociedade.
O curso acontece toda quarta-feira das 9h às 10h30 da manhã e pode ser acompanhado no canal da USP no Youtube.
A aula inaugural pode ser vista no vídeo abaixo: