Apesar de descoberto no século 19 pelo médico suíço Johann F. Miescher, o DNA para se tornar conhecido precisou esperar até o ano de 1953, quando o biólogo James D. Watson e o físico H.C. Crick propuseram sua representação gráfica – a famosa dupla hélice.
Mas esse conhecido ainda era restrito. Eu, por exemplo, só ouvia o conceito DNA em sala de aula. Guardei o principal: o DNA é espécie de disco rígido contendo todas as informações biológicas de um indivíduo.
No entanto, não demorou muito para o ácido desoxirribonucleico cair na boca do povo, entrando no dia a dia das pessoas. Os filmes policiais contribuíram bastante, ao mostrar assassinos e estupradores indo para o xilindró por delação do DNA.
A linguagem também fez festa ao fazer do termo sinômino de origem, marca indelével, prova irrefutável. Daí tudo ganhou DNA com as expressões: “Está no DNA do partido ir para a rua”, “Está no DNA da arte provocar” etc. É evidente que partidos e artes não têm cadeia genética. Vale a licença popular.
As marcas também se apropriaram do conceito: “É do DNA da Sonny fazer as melhores telas”, “É do DNA da Apple inovar”, “O DNA do Jippe é se aventurar” e marketing que segue.
Mas o que tornou o DNA campeão de audiência foi sua capacidade de estabelecer com enorme probabilidade a paternidade. Por milênios a fio, ser pai foi presunção. Era a palavra da mãe contra a palavra do pai fujão.
Hoje não dá para sustentar a situação narrada com graça no samba de Edwaldo Ruy e Fernando Lobo – que encantou os ouvidos brasileiros em 1950: “Tava jogando sinuca, uma nega maluca me apareceu, vinha com um filho no colo, e dizia pro povo que o filho era meu”. O rapaz se esquiva, afirmando que “a bomba caiu no seu colo, pois ele nem era do amor”.
Por conta do exame de DNA, as negas podem deixar de serem tachadas de malucas. Os papais fujões podem ter que pagar pensões e pôr o sobrenome nas certidões de nascimento. Tudo com o generoso patrocínio do ácido desoxirribonucleico.
Fernanda Pompeu é webcronista louca por ciência.