Cientistas da Kosmoscience, empresa spin-off do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (Unesp), estão debruçados sobre os efeitos da radiação Infravermelha A sobre a pele humana.
Essa radiação, também chamada de IV-A, é sentida na forma de calor e vem não apenas do sol, mas também dos aparelhos elétricos, como ferro de passar roupa e secador de cabelos. Liderados pela farmacologista Samara Eberlin, os pesquisadores querem mesmo entender como a radiação infravermelha afeta as camadas mais profundas da pele e se gera estresse oxidativo, causando possíveis danos ao DNA.
A novidade é que os testes que a Kosmoscience realiza não são feitos em animais e sim com pele humana descartada de cirurgias plásticas eletivas. “É necessário considerar o incentivo à implantação e desenvolvimento de metodologias alternativas ao uso de animais em pesquisa, seguindo a tendência mundial dos 3R’s, que significam substituição, redução e refinamento”, explica Samara.
A escolha por pele ex vivo também garante recursos suficientes e seguros para avaliar cosméticos.
Para serem usados na pesquisa, os fragmentos de pele são obtidos depois de uma aprovação do comitê de ética em pesquisa e do consentimento dos participantes de pesquisa submetidos à cirurgia. Depois disso, a pele passa por um processo de assepsia e padronização experimental, antes de ser colocada em cultura. “Os fragmentos são mantidos em meio de cultura contendo nutrientes específicos e os experimentos são realizados no período máximo de 7 dias, que é o prazo da viabilidade do tecido cutâneo”.
Trabalhando com os descartes, Samara e os biólogos Michelle Sabrina da Silva e Gustavo Facchini já conseguiram demonstrar os efeitos nocivos da radiação IV-A sobre o tecido cutâneo. À Unesp Agência de Notícias, Samara contou que “os resultados são preliminares, mas indicam que a radiação infravermelha produz alterações no metabolismo normal da pele, podendo causar desde alterações estéticas até malformações malignas”.
A radiação IV vai mais fundo na pele que a ultravioleta, aquela da qual nos protegemos na praia. Por isso, alguns protetores já estão vindo com antioxidantes, além do bloqueio às radiaçõs UV-A e UV-B, mas ainda é necessário obter mais informações sobre os mecanismos de ação da radiação IV e a concentração ideal dos antioxidantes.
A equipe da Kosmoscience tem implantado vários modelos experimentais utilizando a pele ex vivo como sistema teste, “o que nos possibilita avaliar o efeito dos produtos de uso tópico nos processos de envelhecimento cutâneo, fotoproteção, fotopoluição, dermatite atópica, entre outros”, afirma Samara Eberlin.
Recentemente, os pesquisadores começaram a trabalhar numa linha de estudos com foco na biologia capilar que engloba a avaliação desde o folículo do cabelo até o couro cabeludo. “Para esse estudo utilizamos também fragmentos obtidos de cirurgia eletiva da face conhecida como lifting facial (ritidoplastia)”. O objetivo, garante a farmacologista é descobrir novos tratamentos para problemas capilares comuns e raros.