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Um olhar delicado para a biodiversidade
Divulgação científica

por | 24 ago 2021

Vídeo da cineasta Marta Nehring narra os 20 anos do Centro de Referência em Informação Ambiental

https://www.youtube.com/watch?v=Q_T0CaVi2OE

Há cerca de três semanas, um vídeo de 3 minutos sobre o Centro de Referência em Informação Ambiental, o Cria, chamou a minha atenção. Terá sido, talvez, pela delicadeza eficaz da animação feita com pequenas peças e lâminas de um sem-número de espécies da flora e da fauna brasileiras, pela música um tanto nostálgica, minimalista, atravessada por referências ancestrais, ainda um pouco pelo texto e narração envolventes, ou por tudo isso funcionando conjuntamente. O fato é que, curiosa, fui procurar quem, certamente a partir da encomenda de um vídeo institucional, fizera esse pequeno produto nem panfletário nem burocrático em defesa da preservação da biodiversidade nacional.

Encontrei, surpresa, Marta Nehring, profissional de larga experiência que conhecia desde as reuniões em São Paulo da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, em meados dos anos 1990, e do belo documentário “15 filhos”, de 1996, que ela fizera junto com Maria Oliveira, sobre filhas e filhos de mortos e desaparecidos políticos, de exilados ou sobreviventes de um tempo de encarceramento e longas e violentas torturas sofridas nas prisões da ditadura de 1964-1985.

As duas documentaristas estavam, claro, incluídas entre as personagens de que tratavam no filme. Marta é filha de Maria Lygia Moraes, professora da Unicamp, e de Norberto Nehring, economista e professor da Universidade de São Paulo (USP), militante do PCB e da ALN, assassinado pela ditadura em 1971 (no comportamento cínico típico da época, a repressão divulgou sua morte por suicídio, mentira só oficialmente desmentida pelo estado brasileiro em 2013). Maria Oliveira é filha do sociólogo Ricardo Prata Soares e da ex-ministra e professora da Unifesp Eleonora Menicucci, também socióloga, ambos militantes da Polop quando ela foi presa e barbaramente torturada no começo dos anos 1970.

Mas é de Marta Nehring que aqui se trata. Formada em Letras na USP, ela tem um currículo intenso e eclético: trabalhou por 10 anos na Tv Globo, até 2017, como colaboradora de Maria Adelaide Amaral em novelas, trabalhou em séries como Mil dias, sobre a construção de Brasília, do History Chanel, foi publicitária na W Brasil e atuou na campanha eleitoral de Hélio Gueiros.
Em 1985 já estava fazendo cenografia no filme “Vera”, de Sérgio Toledo, e se preparando para projetos mais pessoais. Além de “15 filhos”, isso inclui o documentário “Vizinhos”, do começo dos anos 2000, sobre sua vizinhança na favela que existia contígua à rua

Senador Cesar Ladeira Vergueiro, na zona Oeste de São Paulo; “A moda do centro”, documentário a partir de pesquisa de Álvaro Comin, do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), sobre circuitos étnicos de moda; e “Brás, sotaques e desmemórias”, adaptado da obra original de Lourenço Diaféria.

Em 2010 ela faria para a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) uma série sobre Manoel da Conceição, o festejado líder camponês maranhense e militante da Ação Popular nos anos da ditadura, depois militante do PT, falecido na semana passada, e agora mesmo anda aprontando um curta sobre o trabalho de jovens em sistema de co-working.

Entre uma oficina e outra de audiovisual ministrada a turmas jovens, no isolamento da pandemia, o Cria lhe propôs fazer um vídeo para dar mais visibilidade à instituição, e três conselheiros que ela conhece bem, os advogados Rubens Naves e Rosana Vassoler, mais Marcio Miranda Santos, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), foram fundamentais na definição do conteúdo.

Acostumada a se adaptar às situações, para o que deve ter contribuído o fato de ter vivido no exílio francês de 1969 a 1975, ou seja, dos 5 aos 11 anos de idade, assim como ter mudado de escolas com alguma frequência depois do retorno ao Brasil ou ter vivido um mês dentro da favela de Heliópolis para compreender o duro cotidiano “de um estado de exceção, da lei do não dito, do oculto”, não lhe foi certamente difícil ligar a chave da divulgação científica e tocar o vídeo do Cria. Mesmo na pandemia, mesmo tendo que fazer tudo com distanciamento. Até porque a biologia a encanta.

Fará novas coisas nesse terreno? Quem sabe? Por ora, além do curta sobre jovens em ambiente de trabalho, cuida do roteiro e pesquisa de duas peças de teatro.

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