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Somos a última geração que pode salvar a Serra do Curral (e outras serras por aí)

Eu já fiz um texto para o Ciência na Rua sobre a cidade de Belo Horizonte. Foi em agosto do ano passado, eu tinha acabado de voltar de BH e tinha ido pra lá pela primeira vez. Desde então, o meu caso de amor pela cidade só aumentou e fui mais duas vezes, em outubro de 2023 e agora, em abril de 2024.

Na primeira vez em que escrevi sobre BH aqui para o portal, falei sobre a presença da mineração por lá e sobre como isso tinha me impressionado e me impactado, sendo alguém que não convive de perto com essa realidade. O que posso contar agora é que nas minhas três visitas à capital de Minas, por coincidência ou não, acabei visitando a Serra do Curral, a grande cadeia de morros que corta BH e outros municípios próximos, como Sabará e Brumadinho, por exemplo.

A Serra do Curral é uma presença constante em BH. Para onde quer que você olhe é possível ver um pedacinho dos morros. Tanto assim que eu e a minha amiga Gabi, que foi pra lá comigo duas vezes, criamos a brincadeira de, aleatoriamente, fazermos a pergunta “where’s the mountain?” (onde está a montanha?) e termos que achar a cadeia de morros, procurando-a no horizonte.

A real é que a Serra é imponente, é uma presença. Marcou minhas três visitas pra BH. É quase parada obrigatória pra mim. Foi minha despedida da cidade na primeira vez que fui. Foi de onde eu vi um eclipse na segunda vez que fui. E foi de onde eu vi a cidade inteirinha agora, nessa terceira vez, porque subimos em um mirante que eu ainda não conhecia.

Mas, o que me impressiona mesmo é ver como tem gente que quer destruir todo esse patrimônio em nome da mineração. Eu não quero ser repetitiva e reescrever o que já escrevi em agosto, mas, sério, como é que se pensa em destruir toda uma serra histórica, imponente e linda para extrair minério? Até onde vai o projeto de destruição capitalista que visa a acumulação de riquezas de pouquíssimos e que vai acabar destruindo todos nós? Recentemente, um projeto polêmico e irregular de mineração na Serra do Curral voltou a ser discutido e debatido, desconsiderando uma série de impactos sociais, culturais e ambientais que a exploração nessa área poderia trazer. A esse respeito, vale conferir reportagem do jornal O Eco.

Para além das irregularidades e das problemáticas práticas do projeto, me interessa discutir também a “filosofia” por trás de tudo isso. Em nome de que se destrói uma serra? Em nome de quem se instaura um projeto de mineração em uma serra? Para que? Minas Gerais tem exemplos reais e concretos das tragédias que a mineração desenfreada e essa busca incessante por lucro podem trazer. A gente não vai nunca esquecer de Brumadinho e de Mariana. Só pra deixar registrado.

Recentemente eu estava lendo um livro que tem por título Terra: uma antologia afro-indígena, e levei inclusive pra viagem a BH. Ler esse livro me fez refletir muito sobre como a sociedade capitalista, branca, ocidental realmente enxerga a terra como um “algo” a ser explorado e que está ali para ser usada pelo ser-humano – esse ser que se supõe tão superior a todas as outras espécies que habitam o planeta.

Esse discurso é uma falácia e vai levar todo mundo pro buraco se não acabarmos com ele logo. A Terra está aqui para coexistir com os seres humanos e não humanos. A Serra do Curral está ali para ser uma Serra. Para ser lar para animais, plantas e para ser contemplada por seres humanos que, como eu, são apaixonados por BH. E é só isso. Ou a gente muda a nossa relação com a Terra ou a gente vai destruir a Serra do Curral, outras serras por aí e o planeta Terra inteirinho.

Quando fui a Belo Horizonte em outubro do ano passado, a minha amiga Gabi comprou um cartaz que diz, “Somos a última geração que pode salvar a Serra do Curral”. E é bem por aí mesmo. Ou a gente muda a nossa mentalidade agora, para de explorar a Terra, esquece a ideia de minerar a Serra do Curral ou vai perder esse patrimônio natural e tantos outros por aí. E esses lugares são especiais demais e importantes demais para serem perdidos assim.

 

 

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