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“Socorro, USP, preciso de um help!”

por | 2 dez 2022

por Thaciana de Sousa Santos

Em seu 26º texto para este site, depois de meses narrando as agruras de uma ingressante no curso de física pelo sistema de cotas raciais e sociais, colunista hesita entre seguir adiante e desistir

 

Finalmente é dezembro. A época mais esperada do ano, com Natal, férias e o fim de um ano tão exaustivo (o meu, pelo menos, foi) que não vejo a hora de tudo isso acabar.

Percebi o quanto sinto falta da velha escola. A essa época eu já estaria de férias, sem preocupações, seria só felicidade.  Mas agora? Não tenho esse privilégio, ainda estou estudando, tenho algumas provas e, se a falta de sorte for muita, terei ais uma em janeiro também.

Gente, me abrindo aqui, de coração, estou cansada deste ano. Foram tantas coisas, tantas emoções, que estou me despedindo dele aos pedaços. Não sou mais a garota de janeiro, que estava preocupada com a Fuvest e trabalho, e meio perdida, sem saber o que faria com o fim do ensino médio. A minha vida toda foi na escola e, do nada, isso acabou.

É estranho pensar nisso, parece um passado distante, mas não é. Há um ano eu estava chorando de desespero com a primeira fase da Fuvest, com o fim do ciclo escolar, me despedindo dos meus amigos. Conheci na escola pessoas incríveis e que espero levar comigo até o fim da vida.

Mesmo com todas as incertezas que vivi então, nada se compara ao que estou vivendo agora. Estudo, estudo e estudo, mas nada resolve, nada melhora. Nem chorar alivia a alma.

A transição da escola para a faculdade não tem sido fácil. Achei que a essa altura já teria me acostumado – mas nada ainda. Ano que vem vou tentar mudar o meu horário, estudar no diurno, para tentar melhorar o meu rendimento. É cansativo estudar de noite, mesmo estando sem trabalho, e aplaudo quem consegue fazer as duas coisas.

Claro que vai ser cansativo também, talvez tenha que sair 5:30h da manhã, e nem sei que horas vou chegar de volta em casa. Mas espero que a vida melhore, que a minha casa volte a ser o meu refúgio, lugar de descanso, porque não tem sido assim.

Nesse momento estou vivendo pelas férias, quero revigorar as energias e me curar de todos os traumas. Penso que vai ser um momento para decidir o que farei daqui para a frente. Sim, está tudo meio indefinido. Eu estou indecisa.

Eu amo física, amo mesmo, mas não sei se realmente é para mim. Estou tentando, com todas as minhas forças, tentei procurar ajuda com psicólogos no Instituto de Psicologia, mas não consegui. Eu já faço acompanhamento psicológico há alguns anos, mas acho que precisava de alguém de lá, que entendesse o ambiente em que estou.

A minha psicóloga até sabe bastante, o filho dela faz engenharia na Poli, conhece todo o sentimento que estou sentindo e sempre me diz para esperar o fim do primeiro ano, colocar a cabeça no lugar e não fazer nada de que eu possa me arrepender – e ela realmente tem razão.

Mas tem sido tão doloroso e triste esse processo! E eu sei que não sou a única a viver isso. O que eu já ouvi, e acredito, é que lá não formam cientistas e, sim, escolhem os mais fortes. Sinto que é aquela teoria da seleção natural, só os mais fortes sobrevivem e acho que é, sim, a verdade.

E eu não sei se sou forte o suficiente para continuar. Mas também não sei se conseguiria deixar o meu sonho. Eu realmente não sei de nada. Vou esperar até o início do próximo semestre e decidir o que eu realmente quero para o futuro. Decidir se o meu sonho é apenas amor ou se, realmente, é a minha vocação.


Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

 

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