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Sob ataques, o jornalismo verdadeiro conquista o Nobel da Paz
Prêmio Nobel

por | 8 out 2021

A filipina Maria Ressa e o russo Dmitry Muratov dividirão o prêmio, “por seus esforços para salvaguardar a liberdade de expressão”

Ilustração: Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach

A concessão do Prêmio Nobel da Paz 2021 para dois jornalistas, a filipina Maria Ressa – primeira mulher laureada na lista do Nobel deste ano – e o russo Dmitry Muratov, por “sua luta corajosa” em defesa “da liberdade de expressão” em seus países, foi comemorada com alegria por colegas do mundo inteiro.

Afinal, como enfatizou o comunicado oficial do comitê norueguês do prêmio, os vencedores representam “todos os jornalistas que defendem esse ideal num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”. Aquela liberdade que é exatamente “uma pré-condição para a democracia e a paz duradoura”.

O prêmio contém simbolicamente um claro e eloquente recado para governos autoritários e fascistas espalhados hoje pelo mundo, o do Brasil inclusive. “O jornalismo gratuito, independente e baseado em fatos serve para proteger contra o abuso de poder, mentiras e propaganda de guerra.”

E quem são os vencedores que vão dividir 10 milhões de coroas suecas (em torno de US$6 milhões)? Maria Ressa, 58 anos, foi uma das fundadoras com um grupo de jornalistas de seu país, em 2012, da Rappler, empresa de mídia digital voltada ao jornalismo investigativo com sede em Pasig, Manila. É diretora da empresa, seu front para uma luta incansável na exposição “do abuso de poder, do uso da violência e do crescente autoritarismo” em seu país. Segundo o comunicado do Nobel, ela “chamou a atenção da crítica para a polêmica e assassina campanha antidrogas do regime de Duterte”, que vem resultando em um número tão alto de mortes a ponto de se assemelhar a uma verdadeira guerra travada contra a própria população das Filipinas. O uso das redes sociais para a difusão de notícias falsas, assédio aos opositores e manipulação do discurso público também têm sido documentados pelas matérias do site.

Já Dmitry Andreyevich Muratov, que completará 60 anos no próximo dia 30, vem defendendo há décadas a liberdade de expressão na Rússia, “em condições cada vez mais desafiadoras”, diz o comunicado do prêmio. Foi um dos fundadores em 1993, do jornal independente Nóvaia Gazeta e é seu editor-chefe desde 1995. Veículo mais íntegro e independente do país, com um jornalismo, como deve ser, baseado em fatos, o Nóvaia Gazeta tornou-se uma importante fonte de informações sobre graves mazelas da sociedade russa, raramente mencionadas por outros meios de comunicação, desde corrupção, violência policial, prisões ilegais, fraude eleitoral e “fábricas de trolls”, até o uso de forças militares russas dentro e fora do país.

A resposta dos adversários do jornal, diz o texto do anúncio do prêmio, tem sido assédio, ameaças, violência e assassinato. Desde que o jornal começou a funcionar, seis de seus profissionais foram mortos, entre os quais Anna Politkovskaja, autora de artigos reveladores sobre a guerra na Chechênia. Apesar de tudo isso, Muratov se recusou a abandonar a política independente do jornal e como editor-chefe tem defendido “o direito de os jornalistas escreverem o que quiserem sobre o que quiserem, desde que cumpram os padrões profissionais e éticos do jornalismo”.

Comentário da presidente da Fenaj

Em uma nota publicada no site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), sua presidente, Maria José Braga, comentou sobre a conquista dos dois combativos colegas:

“É uma conquista de dois profissionais, que deve ser celebrada por todos os jornalistas do mundo. É o reconhecimento da importância do Jornalismo para a constituição da cidadania e para a garantia da democracia, como forma de organização política que busca a resolução de conflitos por meio do diálogo e, portanto, que busca a paz.

E é o reconhecimento do jornalista como profissional do Jornalismo e do papel social de ambos, em um momento importante da história, quando informações falsas e/ou fraudulentas circulam massivamente provocando retrocessos civilizatórios.

O Nobel da Paz para dois jornalistas diz para o mundo que a informação jornalística é imprescindível e que os jornalistas merecem respeito e reconhecimento pelo que fazem”

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