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O racismo no futebol vem de longe

por Thaciana de Sousa Santos

Ponte Preta foi o primeiro clube a  ter um homem negro como jogador, em 1900

Nesse exato momento, estou assistindo Marrocos e Croácia, na Copa do Mundo e pensei que deveria pensar mais além de um simples jogo. Estamos no mês da consciência negra e eu pensei: como que o negro se encaixou em tudo isso? Não posso falar pelo mundo, mas eu sei daqui, do nosso país, culturalmente racista.

Sabemos que futebol foi (talvez ainda seja) elitista. Os brancos, ricos e mimados trouxeram o jogo da Inglaterra; mesmo lá, os operários já jogavam e aqui, não.

Foi ninguém mais ninguém menos que a Ponte Preta a inserir o negro no futebol. Até onde se sabe, foi o pioneiro ao levar ao clube um homem negro como fundador e jogador, Miguel do Carmo, em 1900.

No Rio de Janeiro, temos o Bangu, que em 1905 escalou um negro, num time formado majoritariamente por operários e trabalhadores. Mas foi publicada uma nota proibindo “pessoas de cor” na escalação. O Bangu foi resistente e preferiu não disputar o campeonato carioca. Mas quem fez história foi o Vasco da Gama que em 1923 conquistou um título, com um time quase todo formado por “pessoas de cor”.

Já a nossa tão amada seleção teve um homem negro, Arthur Friedenreich, como seu primeiro ídolo. Foi ele quem em 1919 fez o gol do título para cima do Uruguai na Sul-Americano, agora, chamada de Copa América. Apesar de ser negro, Fried, como era chamado, tinha avós imigrantes alemães. Do pai, herdou os olhos verdes e da mãe, negra e professora, o tom da pele.

Havia toda uma expectativa para a seleção, aí nascia a paixão pelo futebol. Mas em 1920 as derrotas foram maiores que as vitórias. A disputa seria no Chile e, lá, a seleção sofreu a maior goleada do Uruguai, 6 a 1 – logo atrás dos 7 a 1 para a Alemanha em 2014. Do Chile, os jogadores seguiram para um amistoso na Argentina e foram recebidos com charges racistas, com imagens que retravam os brasileiros como macacos, seguidas de um texto no mesmo espírito. Alguns se revoltaram e nem quiseram jogar – não é para menos, não é? É por isso que não torcemos para a Argentina, em hipótese alguma. No fim, houve um jogo improvisado e o Brasil perdeu por 3 a 1.

Ao invés de contornar toda essa situação, a solução encontrada por Epitácio Pessoa [presidente da República] foi organizar uma seleção completamente branca para “preservar” a imagem do país. No fim, não resolveu, porque os jogadores brancos perderam também. Agora eu te pergunto, por que seria vergonha ter um negro da seleção? E convenhamos, não era algum trabalhador ou operário, o cara se formara no Mackenzie.

Nunca mais voltou a acontecer isso, de termos apenas jogadores brancos, mas no momento que era necessário, não lutaram por quem era diferente. Encontramos uma voz depois de muito anos e, infelizmente, ainda há muita gente que entende 1/3 do racismo quando algum branco fala, quando não é um branco, é “mimimi”.

Epitácio tinha que ter lutado, ir contra tudo o que falavam, enfrentar o racismo. E mesmo hoje, ainda há racismo. Há jogadores que são chamados de macacos aqui mesmo, onde o maior ídolo do futebol é o Pelé. Essa conta não fecha nem faz sentido.

Atualmente, temos jogadores ótimos, como Neymar, Gabriel Jesus, Casemiro, Vinicius Junior, Éder Militão, Frederico e muitos outros. Ser branco não é e nunca será sinônimo de capacidade, talento ou inteligência e isso não é só sobre futebol.

Agora é só sentar no sofá, com uma bacia de pipoca e torcer pelo hexa!


Thaciana de Sousa Santos, a Tatá, é estudante de graduação do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e escreve semanalmente para o Ciência na Rua

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