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Meio ambiente concentra hoje o mais alto interesse dos jovens brasileiros

Resultados da pesquisa do INCT em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia foram apresentados na semana passada

imagem: rawpixel.com / Freepik

Uma boa notícia se apresenta quando estamos ainda no inventário das perdas de vida e da destruição da infraestrutura pública e privada produzidas pelas chuvas intensas e cheias generalizadas num Rio Grande do Sul absurdamente despreparado para eventos extremos, seja por criminoso descaso político ou pesada indiferença em relação às demandas sociais. Veja: uma maioria considerável dos jovens brasileiros de 15 a 24 anos — nada menos que 77% deles — está interessada em meio ambiente.

Esse é, hoje, na verdade, o tema de mais alto interesse dessa população, segundo os resultados do estudo “O que os jovens brasileiros pensam da ciência e da tecnologia”, apresentado na sexta-feira, 17 de maio, pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (INCT-CPCT). Aliás, exatamente ciência e tecnologia, além de medicina e saúde são as áreas seguintes da lista, provocando o interesse de respectivamente 67% e 66% dos jovens brasileiros.

Ambientalistas e ativistas do meio ambiente — mas também cientistas em geral — têm, portanto, razões de sobra para comemorar ruidosamente esse resultado. Afinal, a sociedade é, sim, cada vez mais permeável a tais assuntos. E tanto mais quando se verifica que o interesse por eles está bem à frente de um outro sempre popular, o esporte, hoje capturando a atenção de 63% da moçada. Já política, campo decisivo para o tratamento que os gestores públicos dispensam às questões centrais da sociedade, inclusive as da crise climática e do meio ambiente, aparece contraditoriamente na constrangedora rabeira da lista, mobilizando o interesse de apenas 28% dos jovens de 15 a 24 anos. Religião e arte e cultura estão com mais prestígio (ver tabela).

Entretanto, há algumas más e preocupantes notícias que surgem do estudo. Algo como 15% dos jovens pensam que a crise climática não passa de uma invenção, 23% pensam que a educação formal deve estar a cargo do setor privado, e um pequeno percentual nunca checa informações e passa adiante mesmo as que acha falsas. Ou seja, atua diretamente na desinformação.

Responsável pelo estudo, o INCT-CPCT 2024 comparou os dados de agora com aqueles que obtivera em pesquisa similar, pioneira no país, feita em 2019, portanto antes da pandemia de covid. Mas os comparou também com resultados da pesquisa mais recente de percepção pública de ciência e tecnologia para a população brasileira adulta em geral, jovens incluídos, realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) em 2023 e divulgada na última quarta-feira, 15 de maio, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Vale lembrar que os estudos desse tipo relativos à população adulta em geral vêm sendo feitos regulamente no Brasil desde a década de 1980, enquanto o interesse específico pelos jovens é bem mais recente.

As comparações são de grande relevância porque permitem detectar como avançam concepções, juízos e valores entre a população jovem num intervalo de cinco anos, assim como recortar suas especificidades em relação à população em geral, algo valioso para o debate e o traçado de políticas públicas relativas não apenas à produção do conhecimento científico, mas também à educação, à saúde, à cultura e a outros tópicos. O Ciência na Rua voltará em breve à questão em novos textos.

O estudo do INCT-CPCT foi realizado por uma equipe formada por Luisa Massarani, Ildeu Moreira, respectivamente coordenadora e vice coordenador desse instituto ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e os pesquisadores Ione Mendes, Vanessa Fagundes e Yurij Castelfranchi. Sua base empírica é um levantamento realizado de 3 a 25 de fevereiro (survey) com 2.276 entrevistados compondo uma amostra da população de jovens brasileiros residentes em domicílios urbanos, distribuída no território nacional segundo dados do censo de 2022 do IBGE. As entrevistas foram feitas presencialmente, e em domicílio.

Esse trabalho investigou diretamente com os jovens seis eixos básicos: interesse e relevância social da ciência e tecnologia; consumo e checagem de informação; visitação a espaços e participação em atividades científico-culturais; confiança, prestígio e apoio; atitudes sobre ciência e tecnologia (promessas, cautela, regulação e controle social); e conhecimento.

Na apresentação na semana passada, entre os destaques dos resultados do estudo, além dos temas de maior interesse dos jovens, os pesquisadores trataram da questão das fontes, observando que as fontes que eles mais utilizam para se informar sobre ciência e tecnologia são a internet e as redes sociais, como se previa. Entre plataformas e aplicativos os mais usados são o Google (87%), o Instagram (80%) e o YouTube (77%).

Também foi destacado que aumentou a parcela dos que acham fácil perceber se uma informação sobre C&T é verdadeira ou falsa (de 30% em 2019 para 46% em 2024) e cresceu o percentual dos que afirmam checar as informações (de 15% para 32%). Entretanto, muito preocupante é o dado discutido por Castelfranchi relativo ao percentual de jovens que passam adiante informação falsa pela internet, o que apontaria para um protagonismo de jovens, mesmo que em pequena escala, no fenômeno da desinformação. Voltaremos a isso, entre outros pontos.

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