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Da cumbuca ao foguete

por | 15 dez 2020

por Lara Campeão

Foto: SwapnIl Dwivedi / Unsplash

Ao pensar nos tipos de artefatos, ferramentas e utensílios usados pelo homem, podemos observá-los distribuídos em três grandes grupos: metálicos, políméricos (ou plásticos) e cerâmicos. Provavelmente você já sabe o que são os metais e plásticos, mas e as cerâmicas? O que são? São utilizadas só para tijolos, pratos, vasos e telhas? O que elas têm de ciência?

Foi sobre isso que entrevistamos o professor Huyrá Araújo, um dos semifinalistas do FameLab Brasil 2020 e coordenador do Ceramicando, um projeto de ensino, pesquisa e extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), campus de Piracicaba, que busca nuclear a partir das tecnologias cerâmicas um amplo conjunto de discussões sobre arte, cultura e ciência.

A entrevista coletiva foi realizada no fim da manhã da segunda-feira, 30 de novembro, por mim e meus colegas Lucy Arquejada e Vinicius Almeida, do curso técnico de Mecânica, sob a coordenação da jornalista de ciência Mariluce Moura, dando início à série “Dialogando sobre Materiais e suas Histórias”, uma parceria do grupo Ceramicando com o Ciência na rua.

“A Magia das Cerâmicas” foi o tema desse primeiro encontro com Huyrá, graduado, mestre e doutor em física pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que destacou a multidisciplinaridade do material, mostrando desde a importância étnica da cerâmica ao longo do avanço das civilizações, até a descoberta de seu caráter tecnológico, nomeando as cerâmicas avançadas.

Basicamente, o processo de fazer cerâmica é tal qual o imaginamos: modelar o barro e colocar no forno. Essa técnica existe desde os primórdios das civilizações, com destaque, de acordo com a fala e a pesquisa de Huyrá, para a africana e a indígena, nas quais a cerâmica tinha principalmente caráter artístico, religioso, e para confecção de ferramentas – vide os diversos artefatos existentes em museus, como o Afro Brasil e o Museu de Arte de São Paulo (MASP), ambos em São Paulo.

São acervos importantes, porque, a partir do estudo desses artefatos cerâmicos “simples”, podemos compreender os processos e técnicas utilizados por um povo, seus hábitos e, consequentemente um pouco de sua cultura, história e visão de mundo.

Em paralelo a essa importância étnica, ouvimos também informações durante a entrevista sobre a cerâmica como tecnologia, a partir do estudo de sua estrutura atômica. Huyrá ainda ressaltou os diversos tipos de cerâmicas inteligentes que já vêm sendo desenvolvidos por grandes centros de pesquisa, como o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), de Campinas. São alguns exemplos dessas novas tecnologias as cerâmicas supercondutoras; as que liberam substâncias controladamente; as que geram energia a partir de hidrogênio; as presentes em carros elétricos; as responsáveis pela proteção térmica (como nos foguetes); ou as cerâmicas microeletrônicas (encontradas no celular).

Além disso, o professor destacou a importância de se pensar essas soluções cerâmicas visando à sustentabilidade – com destaque ao meio ambiente e à mão de obra – e a acessibilidade – buscando formas de reduzir custos, investindo nas pesquisas e desenvolvimentos nacionais e, claro, primeiramente, na educação de base em todo país.

Por fim, encerramos nossa entrevista debatendo sobre esse caráter multifacetado da cerâmica, entendendo que ela pode servir, também, como tema gerador de debates dentro da sala da aula, incitando a curiosidade dos alunos – principalmente, os da educação básica e fundamental, segundo Huyrá – e os incentivando a fazer ciência, desmistificando o estereótipo de cientista e trazendo-os para mais perto desse universo.

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