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COP30: negociações climáticas ou festival de greenwashing?

por | 12 mar 2025

A colunista de clima e meio ambiente questiona escolhas da COP30

ilustração: Kairo Rudah

A COP30, que vai acontecer em Belém do Pará, está cada vez mais perto. É a primeira vez que a maior cúpula de líderes globais discutindo pautas climáticas vai acontecer em terras brasileiras. A Conferência das Partes, que acontecerá em novembro, pode ser um marco nas negociações climáticas: com acordos robustos, propostas ousadas e cumprimento de medidas que foram acordadas há anos e até agora não saíram do papel.

Porém a COP30 tem apresentado também uma série de contradições. Vamos olhar, por exemplo, para o festival “Amazônia para sempre”, promovido no âmbito da COP 30 e organizado pelo Rock in Rio e pelo The Town, que trará para o Brasil mega atrações internacionais como a cantora Mariah Carey.

Já de cara acho complicado transformar um evento sério sobre um tema que precisa ser tratado com a devida urgência em um grande festival de música. Mas, até aí, ok. O problema maior mora nos patrocinadores. O maior investidor desse festival é a mineradora Vale. Sim, a mesma que foi responsável pelos crimes socioambientais de Brumadinho e Mariana. Uma empresa que lucra com a exploração de recursos naturais e enxerga a natureza de forma predatória está patrocinando um festival que tem como objetivo promover a preservação ambiental. Oi??? Preocupação climática ou puro greenwashing pra tentar sair bem na fita e pagar de amiga do meio ambiente?

Sabem quem mais está no quadro de patrocinadores do festival? A Gerdau. Uma siderúrgica lida majoritariamente com aço e que também é acusada de infrações ambientais e contaminações.  Pergunto de novo: preocupação climática ou puro greenwashing?

O fato é que, com ou sem festival, a COP 30 não pode se tornar palco de empresas que fingem se importar com essa causa e, na realidade, estão por aí contribuindo para a crise climática. Não dá para fazer as duas coisas. Não dá para ser uma conferência séria e preocupada com a crise climática e ter como evento paralelo um festival patrocinado por uma das empresas mais devastadoras do país, a Vale, e por outra empresa também acusada de prejudicar o meio ambiente.

Nesse caso, é preciso escolher um lado. Não dá pra conciliar e nem ficar em cima do muro. A realidade climática do mundo não nos permite mais tentar ser legais e abraçar todo mundo. A gente precisa estar do lado certo da história e começar a agir dessa forma.

A Vale e a Gerdau não podem ser personagens principais de um evento climático. Isso é uma contradição em termos. Aliás, seria muito melhor para o meio ambiente se a Vale se responsabilizasse pelos seus crimes ambientais e pagasse indenizações justas para as famílias atingidas em Brumadinho. Ou — que tal? — simplesmente parasse com a mineração predatória. Fica aí a dica.

Não queremos a COP do greenwashing. Não queremos a COP dos festivais e das super divas. Queremos uma COP que pense em perdas e danos, em transição energética, em financiamento climático e em descarbonização da economia. Queremos uma COP que, finalmente, leve a sério a urgência da situação que vivemos. E não vamos aceitar nada menos do que isso.

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