Tatá reflete sobre a tensão entre crença e ciência
Para mim, a maior alegria de ser universitária é que não preciso mais me preocupar com o ENEM e nem os vestibulares, não que no meu ano de vestibulanda eu tenha me preocupado muito, sendo sincera. Sabia que a nota de corte para o meu curso era muito baixa, tinha poucos inscritos, então estava tranquila.
Mesmo não fazendo ENEM e sem me preocupar com ele, sabemos que a prova é um evento, e nas redes sociais há comentários sobre como foi.
Ando tão desligada do mundo que nem sabia sequer as datas, só vi depois publicações sobre o tema da redação (Desafios para a valorização da herança africana no Brasil) e pensei: “esse tema, sim, foi bom”. Achei que calhou muito com o mês e não foi uma surpresa total.
E eu, como alguém que não aprendeu a não olhar os comentários, porque sempre acho que não terá intrigas, me deparei com um comentário do tipo “tive que escrever tudo que vai contra o que eu acredito e a minha religião”. Na hora, eu cocei a cabeça e fiquei sem entender.
Fiquei pensando se era racismo, intolerância religiosa ou os dois juntos. Pelo que entendi, eram os dois juntos, e acho que a história dispensa comentários, porque todos nós sabemos exatamente o que está por trás dessa fala.
O ponto da religião me pegou um pouco. Eu acredito em Deus e muitas pessoas já me perguntaram se eu já deixei de acreditar em algum momento da vida por causa da faculdade.
Algumas denominações cristãs não conseguem dialogar bem com a ciência, coisa que o catolicismo já consegue. E pra quem queimava gente na fogueira por muito menos, eu achei um passo e tanto.
E, respondendo a vocês a pergunta que muito me fizeram: sim, eu já deixei de acreditar em Deus por um momento. Quando eu paro para pensar na complexidade do Universo, não faz sentido o trabalho divido em apenas 6 dias. Não faz sentido um estalar de dedos criar luz.
Mas sempre que estou meio lelé das ideias, penso em algo que Stephen Hawking escreveu em “Uma breve história do tempo”. Ele diz no livro que a ciência, em si, não desacredita de Deus ou deuses, enfim, qualquer entidade religiosa, diz apenas que se existe alguma, agiu em tal momento da história e de tal forma.
Simples assim, quem quiser acreditar, acredite, mas a criação do Universo começou com o Big Bang. Há comprovações científicas sobre a evolução da espécie humana, não foi simplesmente Adão caindo do céu e Eva feita da costela dele. (Essa última parte, não sei se a Igreja Católica aceita, não.)
Eu percebi, com o tempo, que os religiosos acreditam que a Bíblia é uma verdade absoluta, que tudo é real. Mas é um livro, escrito por homens com seus pontos de vista. Assim como um livro de autoajuda, ela possui uma finalidade.
É muito mais fácil ser cético hoje do que antigamente. Hoje temos explicações científicas de por quê não é possível um mar inteiro se abrir por causa de um pedaço de pau, como o cajado de Moisés.
Voltando ao início do meu pensamento: o cristianismo ensina sobre amor ou ódio?
A religiosidade impregna nas pessoas que a única religião que “salva as almas” são as delas e o resto: “obras do diabo”. A interpretação da entidade divina não deveria estar centrada em preconceito com outras religiões, mas sim em amor.
Acreditar em um ser maior, deveria trazer paz de espírito, não guerras.