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A reforma de Schrödinger

por | 8 maio 2024

Eu sempre falo do meu curso, trago algumas curiosidades que são mais de astronomia do que física mesmo, mas não cheguei a comentar como é o edifício e quais as dificuldades que enfrentamos lá.

A USP é linda, gente, isso é verdade. E como tem escrito em diversas propagandas nos ônibus: “Viver na USP é melhor do que sonhar”. Ter uma universidade pública tão boa quanto essa é de se aplaudir. Mas já pararam para pensar como é o Instituto de Física mesmo?

Ouvi uma vez alguns alunos do Instituto de Astronomia e Geociências (IAG) falarem que o IF parece um hospital psiquiátrico. E realmente parece. Estando lá todos os dias, passa despercebida essa semelhança, mas, analisando bonitinho, chega a ser triste.

Acredito que a maior reclamação de nós, alunos, seja a reforma da biblioteca, que completou um ano. Isso mesmo, um ano inteirinho para uma obra que tinha o prazo de 90 dias e em que não vemos ninguém mexendo em nada.

Não há pessoas trabalhando para melhorar ou consertar algo. Apenas está lá: fechada. As salinhas de estudos que conseguíamos utilizar, com lousas e tomadas, não podemos mais. O acesso a livros também já não é mais facilitado como é em uma biblioteca convencional.

Desde que as obras tecnicamente se iniciaram, foi improvisada uma “biblioteca” em uma sala de aula. Apenas alguns livros ficaram disponíveis e com quantidades limitadas. Para outros, o melhor é procurar no IAG ou no Instituto de Matemática e Estatística (IME). Essas estão sendo as nossas opções.

Depois de um tempo na faculdade, eu percebi que seria inviável para mim carregar livros gigantes de todas disciplinas, então investi em um tablet que já vem com caneta. Então isso de biblioteca caiu no esquecimento. Parecia algo muito antigo, do tempo dos astecas.

Só que eu percebi que não é. E que me deixei enganar com o meu privilégio de não precisar mais dos livros físicos. Mas há quem precise, cujo único meio de estudo é por eles. E como faz com essas pessoas?

Acho um descaso uma obra em que foi investido um milhão de reais não estar pronta ainda. Mas isso é por que a obra é “só” no Instituto de Física? Se fosse na faculdade de medicina ou direito, duvido muito que estaria se prolongando tanto.

Nós literalmente comemoramos 1 ano de início das obras. Com direito a bolos, salgadinhos, refrigerante e velas. Não é de se pensar que, apesar de cômico, é uma crítica? Por quanto mais tempo ficaremos assim?

O fato dos corredores do instituto parecem alas psiquiátricas nem nos atinge mais. É normal. É um lugar triste, sem vida e sem identidade. Básico. Não te desperta amor e alegria. Desperta desespero e sofrimento.

O IF não é acolhedor. De forma alguma. Nem em relação ao curso e muito menos na infraestrutura. Será que precisa ser realmente assim?

É um lugar que sugere a ideia de que só sobrevivem os mais fortes. Mas que tipo de força é essa exatamente? Porque força de vontade não é. Ai eu te pergunto: qual o valor do físico?

 

ilustração: @paozinho_celestial

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