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Terceira edição do Pergunte a um(a) Cientista tira dúvidas da população sobre saúde mental

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A tarde estava quente na Avenida Paulista fechada para os carros, e muita gente passeava, tomava cerveja ou sorvete, andava de bicicleta ou skate e fazia pequenas aglomerações para assistir a apresentações artísticas variadas. Em meio a esse clima de domingo, sobre o asfalto do principal cartão postal da cidade, entre um grupo de dançarinos tradicionais chilenos e outro de massagistas, três mesas, cada uma com um cientista sentado de um lado e uma cadeira vazia (por pouco tempo) do outro. As pessoas passavam, muitas olhavam curiosas para a movimentação e para os banners convidativos: “Pergunte a um(a) cientista”. Os organizadores, de camiseta  preta e amarela, reforçavam o convite, perguntando “Já conversou com um cientista?” ou eram abordados por passantes menos tímidos querendo saber do que se tratava aquilo. Tratava-se da terceira edição do evento Pergunte a um(a) Cientista, organizado pela Via Saber – uma iniciativa estudantil que tem como principal objetivo fortalecer o diálogo entre comunidade científica e sociedade – e com patrocínio do Ciência na Rua, dessa vez especificamente sobre saúde mental, após duas edições (em junho e julho) sem tema definido.

Os jovens Leydson Gabriel e Clara Melo foram passear na Paulista e se surpreenderam com a proposta. “Tem showzinhos, tem apresentações, um monte de lojinhas, vamos viver esse monte de cultura, aí a gente chega aqui e se depara com isso, que é muito bom”, explicou Gabriel.  Eles nunca tinham visto nada parecido e, a princípio, desconfiaram que teriam que pagar. Foram dos primeiros a sentar e conversaram com o psiquiatra Pedro Mario Pan Neto sobre como conciliar um bom desempenho acadêmico com saúde mental – ficaram bastante satisfeitos com a experiência, “ele foi bastante receptivo, falou sobre o que ele tinha passado, então não foi só uma transferência de informação”.

Sara de Oliveira, ainda na fila, contava que também estava passando, viu a movimentação e se interessou, principalmente por também ser cientista –  faz doutorado em educação. A inspiração para o que queria perguntar partiu da própria organização, que colocou um cartaz em cada cadeira vazia com o nome do cientista da mesa e sugestões de assuntos. Ela perguntou à biomédica e professora da Unifesp Síntia Belangero se as doenças mentais sempre existiram e se ansiedade e depressão afetam o cérebro e também achou a experiência e o formato muito interessantes.

Gianko Matt conversa com Síntia Belangero

Gianko Matt, peruano de Lima e morador de São Paulo há dois anos e meio, também foi surpreendido enquanto passeava na Paulista comendo um açaí e disse que se sentiu muito bem após conversar com Síntia, “na verdade, sinto uma energia muito forte dentro do meu corpo, de que todos os meus sentimentos estão muito misturados, um dia olho a vida de um jeito, outro dia olho de outro jeito, um dia sou forte, outro dia sou frágil, um dia tenho coragem, outro dia não tenho, então perguntei para ela se é normal, se é assim que tenho que olhar a vida, se é assim, a vida, e ela soube dar a resposta que eu estava precisando”. Em seguida, por sugestão da biomédica, ele entrou na fila para falar com o psiquiatra Pedro.

Após o evento, Pedro, que é pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), considerou a experiência muito interessante, “a gente que faz pesquisa às vezes está muito dentro do laboratório, da pesquisa, que é cheio de limites e regras e perde um pouco desse contato com a demanda, com as perguntas que vêm da sociedade e têm uma interseção com aquilo que a gente faz. Às vezes eles conseguem colocar de uma forma muito mais prática aquilo que a gente fica elocubrando dentro do laboratório, vai batendo aquela vontade de fazer mais pesquisa e ter elementos científicos para responder mais dúvidas”. Ele explicou que só teve contato tão direto com o público ao fazer instrução para atendimento clínico, “o que vi hoje, por mais que tivesse a demanda de falar da saúde mental de cada um, é que existe muita demanda de saber informações, às vezes sobre o tratamento que elas já estão fazendo e que não deve dar tempo de conversar [com o médico] nos seus próprios atendimentos”.

A psicóloga e professora da Universidade de São Paulo Maria Luísa Schmidt era a cientista na mesa do meio e disse estar acostumada a essa interação direta com a população, “sou professora da USP há muitos anos, participei de muitas greves, houve um tempo em que a gente ia para a Praça da Sé e montava banquinhas das várias unidades da USP, conversava com as pessoas, e é sempre uma experiência muito rica. É divertido, no fundo, porque as pessoas são muito diversas, falamos sobre educação, falamos sobre vícios, uma série de temas muito interessantes”.

O estudante ed física da USP Caio Dallaqua, um dos organizadores, comemorava: “acho que a recepção foi muito boa, a gente não sabia se seria igual às anteriores porque tinha várias áreas e dessa vez, além de muito específico, o tema ainda é um tabu na sociedade, falar sobre saúde mental é uma coisa complicada, a galera sabe que é importante mas tem medo de se expôr, e é natural. No fim das contas, o pessoal participou muito, acho que foi um sucesso, e a tendência é só melhorar”.

Por volta das 18h, a temperatura tinha caído a 20 graus, o fluxo de pessoas na avenida era menor. Os massagistas já tinham tido suas cadeiras apreendidas pelo rapa há algumas horas, os dançarinos chilenos seguiam bailando. A noite de domingo começava a tomar conta da cidade e os organizadores e cientistas do evento se despediam, satisfeitos por mais uma jornada de ciência, literalmente, na rua.

Esse evento de saúde mental terá outras edições em setembro, confira a programação aqui.

Após conversar com os cientistas, público foi convidado a deixar um recado

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