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Poetas e mundo, o olhar, vida, vício, virtude, desejo. Vai começar o Ciclo Mutações

26-e1470078291920É nesta segunda feira, 3 de outubro, às18:30 horas, no salão nobre da Reitoria da UFBA, a abertura do Ciclo Mutações,  com a palestra do escritor e músico, professor de literatura brasileira da Universidade de São Paulo (USP), José Miguel Wisnik. Vai mediá-la Adauto Novaes, o criador e organizador desses ciclos, há 30 anos. A anteceder tudo, a fala do reitor João Carlos Salles, o responsável por trazer neste ano o evento a Salvador, incluído nas comemorações dos 70 anos da Universidade Federal da Bahia.

A considerar as palavras do respeitado crítico literário Antonio Candido, segundo o qual “o senso de diversidade é uma das diretrizes” dos ciclos organizados por Novaes, pode-se apostar que as 15 conferências que terão lugar ao longo de outubro e alguns dias de novembro na reitoria da UFBA, para as quais mais de 500 pessoas se inscreveram, vão oferecer “uma ampla e abrangente visão” sobre “a vida mental, a vida social e os próprios rumos da civilização contemporânea”.

Wisnik, em sua conferência “Poetas que pensaram o mundo: Drumond e a maquinação do mundo”, volta ao tema do modo obsessivo e singular com que a palavra mundo (totalidade dos fatos e dos dispositivos de poder) entra na obra poética do itabirano, que abordara no ciclo de 2004. E agora o examina “em contraponto com seus bastidores históricos, que o investem de inesperada atualidade”.

No resumo da palestra que consta no livreto do ciclo, Wisnik diz, a título de conclusão, que  “ se as ‘retinas fatigadas’ do olhar contemporâneo têm condições de ver com maior clareza a conjugação desses fatos poéticos e históricos, eles dão maior clareza, por sua vez, à visão do tamanho do estrago no estado de coisas contemporâneos”.

Na quarta feira, 5, a palavra é do filósofo João Carlos Salles para abordar  “O olhar: o olho e a história”, e a intermediação é do compositor, professor da UFBA, Paulo Costa Lima. O percurso proposto por Salles, sem deixar a companhia de Wittgenstein, nos leva do ponto de vista de Deus, “que nos colheria onde quer que estivéssemos”, ou do olho de Deus, tal como representado “no teto de igrejas barrocas do recôncavo baiano”, que nos faz “sempre fitados, todos e ao mesmo tempo”, à verdadeira “revolução copernicana, no interior da própria virada linguística. Diz João que, “se compreender, como ver, é sempre perceber a coerência de um conjunto de elementos, o sujeito não mais se põe fora desse arranjo, sendo seu gesto, sua presença, seu deslocamento, parte do que se configura e dá sentido à composição”.

“Conhecer é agir de certo modo, sendo o significado das palavras e sentimentos determinado por um uso bem regrado”, ele propõe. Assim, o modelo da revolução copernicana no interior da virada linguística, em vez  do ponto de vista do olho de Deus, que tudo vê porque está fora do mundo, traz “o ver de um espírito que anda, perfazendo conexões e inventando necessidades, de um lugar mais pedestre e com um olhar perspectivo”. Em vez do eterno, entra em cena, como medida do tempo, a história, “plena de ritmos e conflitos, e entremeada de necessidades e acasos”.

“Vida, vício, virtude”, do filósofo, professor da USP, Vladimir Safatle, na quinta, 6,  lembrará que “o exercício das virtudes permitiria à vida se realizar em suas medidas adequadas, em seu ritmo natural”. Porque “as virtudes são a vida cuidando de si mesma através da deliberação dos humanos”. E chega-se aí a uma questão central e crucial do presente: “Uma modificação no nosso conceito de vida tem consequências éticas fundamentais”, porque esse conceito, diz Safatle, é “um destes operadores que se desdobram entre vários campos: biologia, política, psicologia”. Cabe então interrogar “as implicações de nosso atual conceito de vida” para redimensionar o que entendemos por virtude.

Vladimir Safatle entende que essa perspectiva já estava em Nietzsche, quando exigia um amor pelo destino e investia contra a moralidade de escravo, e em Deleuze “com seu vitalismo como base de uma teoria da ação”. E contando com a companhia dos dois filósofos, ele pretende em sua jornada “dar atualidade a ela através da exploração das consequências possíveis de uma visão renovada de vida”. O filósofo paulista terá como mediador o colega João Carlos Salles.

desejo

Para fechar a semana, na sexta, 7, a noite é da psicanalista Maria Rita Kehl, para abordar  “O desejo: a depressão e o desejo saciado”. Quem vai intermediar a mesa é a psicanalista baiana, professora da UFBA, Cristiane Oliveira.

Dois trechos apenas do resumo da palestra no livreto do Ciclo Mutações dá uma medida do quão instigante pode ser esse tema. O primeiro: “Uma rápida e superficial observação é capaz de revelar que o depressivo não sofre por não conseguir obter o que deseja. O motivo é pior:ele não deseja nada”. Sim, a depressão se parece com o tédio, o tédio é um dos sintomas da depressão, ela reitera.

Segundo trecho: “O que há com essas crianças a quem os pais, certamente amorosos, queriam oferecer tantas coisas para preencher seu tempo e aprimorar sua formação? Em primeiro lugar: falta de tempo livre. Tempo para imaginar e inventar. Se a mãe das invenções talvez seja a necessidade, , seu pai é, certamente, o ócio. Em segundo lugar, e não por isso menos importante: a falta da falta, pois é disso que essas crianças saciadas-deprimidasde  na sexta, sete de outubro”. talvez sofram. A quem nada falta, não é dado desejar. E nada é mais triste do que não desejar”.

 

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