Atualmente, os estudos da área procuram dar ao animal um ambiente que ele goste, com elementos de sua preferência. Regularmente, os testes para identificar estas predileções são realizados num período de dois a quatro dias e se baseiam principalmente nas escolhas que os animais fazem no momento. São testes de escolha: o pesquisador oferece algumas opções para o animal e ele escolhe o que gosta.
Será que o que ele escolhe é necessariamente o que ele prefere? Foi a pergunta da Caroline em sua tese de mestrado. “Não é porque o animal fez aquela opção num dado momento que é aquilo que ele quer para sempre. Pode ser uma escolha apenas momentânea, manifestada somente naquela hora”, reforça.
A pesquisa de Caroline trabalha com a questão da diferenciação entre uma escolha de momento e de uma mais consistente ao longo do tempo. Uma escolha de momento pode ser influenciada por um contexto, por algo no ambiente que chamou a atenção do animal ou por uma condição fisiológica naquela hora.
“Na maioria das vezes, as pessoas fazem os testes de momento e consideram que a resposta do animal representa a sua preferência. E colocam tais condições para ele, buscando assim melhorar seu bem-estar a longo prazo. Mas aquilo não representa necessariamente o que ele realmente gostaria de forma permanente”, explica.
A nova metodologia propõe avaliar a consistência da resposta ao longo do tempo. Ela analisa quais são as escolhas que o animal fez, ou seja, aquelas que o animal escolheu apenas temporariamente, por alguma razão específica, e aquelas que o animal realmente mantém e que devem representar melhor o que é a sua preferência.
Respostas dos animais
Uma das diferenciações com relação aos testes tradicionais é o número de dias usados para a realização dos testes. “Percebemos que nos primeiros quatro dias – total máximo usado pelos testes tradicionais – é quando ocorre a maior taxa de incerteza na resposta dos animais. Nesse período, a flutuação é muito grande. Se fosse para escolher um período para avaliar a resposta de preferência, não seria ali”, diz Caroline.
O teste então foi ampliado para 10 dias. De acordo com os pesquisadores, a resposta de escolha em cada dia tem o mesmo peso nos cálculos dos testes tradicionais. “Além de fazer em poucos dias, são feitas somatórias e análise das médias. Se o animal, em um dos dias, teve uma escolha muito forte ou muito fraca porque ele estava com algum problema fisiológico, ou algo no ambiente chamou à sua atenção, isto tem um peso grande no cálculo”. Caroline reforça que isso puxa o cálculo para aquele item e não necessariamente é a sua preferência.
Na nova fórmula desenvolvida pelos pesquisadores da Unesp, isso é bem amenizado porque ela calcula com diferença de pesos. A ideia é que as respostas mais próximas do momento de uso devem pesar mais do que as mais antigas.
A formula é calculada de um jeito que o dado, quanto mais antigo, mais perde valor mas nunca sai do quadro. Isto dá uma robustez ao teste, diz o professor Volpato. “Com esta proposta, qualquer teste que se faça com escolhas, e que transforme os dados em números, se enquadra”.
O professor diz também que é preciso reexaminar de tempos em tempos as escolhas do animal e não deixar de considerar os dados já levantados. Não se pode ignorar o que o animal escolheu no começo e trabalhar somente com os dados levantados no final. “Todo este histórico faz parte da vivência e da história do animal”, conclui o orientador.
O estudo teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e originou o artigo A history-based method to estimate animal preference na conceituada revistaScientific Reports, do grupo Nature.
Acesse o artigo em: https://www.nature.com/articles/srep28328
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Com informações de Maristela Garmes, da Assessoria de Comunicação da Unesp