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O Congresso da UFBA se desenha como uma grande audiência pública

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Íntegra do discurso do reitor João Carlos Salles na abertura do Congresso da UFBA, 14 de julho de 2016, Teatro Castro Alves, Salvador/Bahia

 

  1. Universidades são projetos culturais de largo espectro e longa duração. Confiam-se ao tempo e maturam onde certamente há jardim, de sorte que seus frutos nascem de um investimento claro e público em formas seguras, mas nem por isso menos surpreendentes. Seu destino e traçado não podem desconhecer quer a cor local, as condições acadêmicas específicas e as demandas da sociedade, quer o diálogo mais amplo com seus pares.

Esse, pois, o sentido singelo deste Congresso. Ele se desenha como uma grande audiência pública, pela qual nossa instituição, como um organismo vivo, renova suas energias e, pela reflexão cuidadosa de sua história e apresentação de sua atual situação, prepara-se para refletir sobre condições de trabalho e projetos pedagógicos, marcos regulatórios e desafios atuais, fornecendo documentos e dados que favoreçam o traçar de metas precisas, múltiplas e bem cuidadas para nossos mais diversos planos estratégicos, no que se refere a ensino, pesquisa, extensão e vida universitária.

Já elaboramos uma extensa rede para a gravação de mesas e a recolha de contribuições. E, por sinal, imaginem o trabalho que não teremos, após o Congresso, para sedimentar o resultado monumental dos mais de 2200 trabalhos, apresentados por mais de 4000 autores, visando a colher os melhores frutos das centenas de mesas e a traduzir em novos debates o grande debate que agora iniciamos. Afinal, o Congresso é exatamente isso: é nosso caminho pelo debate, nossa educação pela palavra, nosso método de urdidura democrática de um espaço público e acadêmico, que não deixa de ser uma aposta conjunta na natureza mesma da Universidade e, em especial (saibam todos os colegas reitores e autoridades aqui presentes), na grandeza, na força e na beleza que são características da Universidade Federal da Bahia.

Alguns poderiam preferir outros caminhos. Porque formadora natural de elites intelectuais e dirigentes, alguns pensam a Universidade subordinada a interesses elitistas, e chegam a imaginar que suas metas e políticas poderiam ser mais bem traçadas sem o bom barulho do embaralhar de conceitos que precisam mover-se com pressa e paciência, o bom barulho da diversidade cultural e da tolerância epistemológica e a expressão dos interesses emancipatórios da sociedade. Porque carente de recursos (e sempre carente, uma vez que formar, ensinar, pesquisar e prestar serviços de qualidade é missão complexa e cara, que solicita muito e continuado investimento), alguns cedem às soluções mais próprias do exclusivo interesse do financiamento ou logo predispõem a autonomia da Universidade a determinações que lhe comprometem a essência como instituição pública, gratuita, inclusiva e de qualidade.

Não tem sido essa a escolha de nossa comunidade. Não foi isso que nos sinalizou a UFBA quando nos apoiou e confiou em nossa proposta de gestão, que tinha, desde o início, como uma meta, a realização deste grande Congresso. A UFBA sabia que não procurávamos um caminho fácil, mas sim um necessário para celebrar a Universidade, ainda mais em tempo de crise, em que nossa responsabilidade e integridade são testadas a todo instante, não havendo lugar para virtudes autoproclamadas ou meras afirmações retóricas. É certo: “quem mói no asp’ro, não fantaseia”, mas também é verdade que, nunca havendo folga de range rede na Universidade (e não tivemos um dia sequer de trégua nesses quase dois anos de gestão), é possível perfazer-nos de sonhos e nos inventarmos nesse gosto de especular ideias.

 

  1. Celebremos então a ideia de Universidade, lembrando sua virtude mais essencial de lugar público, tecido não pelo mérito presumido ou quantificado de indivíduos, mas pela virtude de uma palavra que logra demonstrações e convencimentos, prevalecendo por esses meios sobre outros instrumentos de poder.

É tempo, pois, de Congresso. Como já dissemos em outro momento, o Congresso não dá início à crítica. Ele antes condensa e faz confluir um cotidiano de atitudes críticas por que nos reconhecemos como Universidade, produzindo o que de melhor em nossa terra se apresenta como ciência e arte. O Congresso não funda nem refunda a Universidade. Ele antes traduz o fato de a Universidade, como organismo vivo, como espírito, renovar o compromisso com sua unidade, ou melhor, com a procura e produção de sua unidade, com seu ideal elevado de integração e diálogo entre saberes. O Congresso tampouco cura as mazelas. Ele antes potencializa uma luta constante, pela qual, combatendo discriminações, incluindo e formando cidadãos, a Universidade se afirma como instituição e justifica seu direito à existência.

 

  1. Reafirmamos, pois, tanto nossa instalação em uma história específica e em uma realidade, quanto nosso compromisso com predicados e virtudes que ainda não temos, ou seja, com os filhos futuros ainda por serem formados, com os conhecimentos a serem adquiridos, com os negros, os índios, brancos e pardos de nossa terra, que farão parte de nossa história. Como será a UFBA, não cabe a um eventual gestor decidir, restringir ou antecipar, exceto pela medida vaga de que seja um exemplo preciso de elevada qualidade acadêmica e de cuidadosa decisão democracia.

Afinal, na UFBA, “em verdade, acordamos transformados, braços em asas”. Por isso, nós a celebramos com reflexão, luta, debate e crítica. Lugar especial de formação e de concorrência de saberes, de elaboração científica e artística e de profundo diálogo com a sociedade, em que, portanto, se cultivam valores universais, sempre ameaçados por causas as mais diversas, internas ou externas, e sempre defendidos na UFBA por razões as melhores e as mais íntimas.

Por isso mesmo, em tempos de adversidade, em momentos de crise, a UFBA logo se tornou um espaço de resistência e luta, um espaço de combate a qualquer restrição de direitos ou a retrocessos políticos. Assim tem sido e, queremos crer, sempre será, pois a UFBA tem a beleza e a graça de um anjo temporal, carregado de lutas, raças, gêneros e história, um anjo que, de pés descalços, faz ciência e dança.

A UFBA é nosso encanto, todos percebem. É nossa vida, pois acreditamos: Singular e universal, contingente e necessária, a UFBA guarda, quando inteira e em seu melhor, a força imensa e tamanha de um anjo de terra que pensa e sonha.

Viva a Universidade Federal da Bahia!

 

 

 

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