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Meu cunhado cosmonauta e o pouso da InSight
Crônica

por | 27 nov 2018

17h56 pulou a janelinha do grupo de WhatsApp da família. Era o cunhado avisando: “O laboratório InSight dos americanos acabou de pousar com sucesso! Nesse minuto”. Corri para a BBC, nesse link incrível aqui e era mesmo verdade! Pousou precisamente no horário previsto. Ok, um minutinho depois, já que a Agência Espacial Norteamericana (NASA), calculara que a aterrissagem seria às 17h54.

Passei a tarde trabalhando em outros contatos imediatos – terrenos, infelizmente – e esqueci de acompanhar a transmissão ao vivo da descida da InSight em solo marciano.

Sorte minha ter um cunhado cosmonauta. Ah sim, eu havia esquecido de mencionar esse detalhe. Ele é pouca coisa mais velho que eu e, desde criança andava às voltas com naves de brinquedo do Playmobil, plataformas de lançamento de Lego e toda sorte de traquitanas que remetem ao espaço. Talvez por isso, sua mãe e sua esposa insistam que ojeito distraído é coisa de quem tem a cabeça na Lua.

Pois foi esse cara quem me despertou da consumição do trabalho e me levou a Marte, para ver a aterrissagem. Eu, um tantinho atrasada. Mas se até a InSight atrasou, acho que estou desculpada, não é?

Mais que uma nave, a InSight é antes um laboratório, uma espécie de super aparelho de ultrassonografia, que foi enviado para tão longe para nos contar – ao modo dele – um pouco mais sobre a evolução de Marte. O instrumento foi construído em parceria com a França e vai medir abalos sísmicos no planeta. Tão sensível, que é capaz de registrar alterações causadas pelo impacto de micrometeoritos com a superfície marciana. O objetivo de tomar dados tão sensíveis assim é captar as ondas sísmicas do interior do planeta e, a partir dessas informações, compreender a evolução marciana, digo, a trajetória daquele corpo celeste escarlate desde que o Sistema Solar foi formado. Ou seja, nada de buscar vida fora da Terra.

Ilustração da InSight simulando a superfície marciana

A InSight viajou por sete meses e percorreu 480 milhões de quilômetros no espaço até chegar majestosa no destino final e começar a enviar imagens para cá. A primeira, aliás, é a que está na abertura desse texto e que revela o solo de Marte. A previsão é que a sonda trabalhe sem parar por mais um ano marciano, que equivale a dois anos terrestres mais ou menos. A aventura toda vai custar à Agência Espacial Americana algo como US$ 993 milhões. Mas um outro bom valor que o projeto carrega são os dados de 2,4 milhões de pessoas que se inscreveram previamente no site da Nasa para ter suas informações pessoais lançadas no espaço sideral. Há, como meu cunhado, uma comunidade numerosa de terráqueos que gosta muito de ter notícias do além-estratosfera. Prometo ficar mais ligada para sinalizar sempre que algum movimento mais interessante sacudir a superfície de de Marte e, consequentemente, der algum trabalho para a nave e começar a apitar o grupo de WhatsApp familiar.

 

 

 

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