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Livro sobre a biodiversidade das paisagens agrícolas no sudeste brasileiro é lançado por editora alemã
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Biodiversity in Agricultural Landscapes of Southeastern Brazil  
Carla Gheler-Costa, Maria Carolina Lyra-Jorge e Luciano Martins Verdade
Editora De Gruyter
342 páginas
US$ 224 (acesso aberto on-line)

O estado de São Paulo, uma das áreas mais densamente povoadas, industrializadas e urbanizadas da América do Sul, é também o lar escolhido pelo terceiro maior felino do mundo, o jaguar, ou onça-pintada.

É quase um paradoxo que a maior espécie do continente americano, que requer grandes áreas de floresta intocada para viver, seja ainda encontrada em algumas partes do estado que têm sua economia baseada nos setores primários, principalmente na cultura da cana-de-açúcar, nas plantações de eucalipto e na pecuária.

Mas é possível que animais selvagens possam resistir e coexistir com a exploração intensa da terra? Ou essas grandes espécies devem desaparecer em um futuro próximo?

Ao longo da história, o uso intenso do solo resultou em grandes alterações da cobertura vegetal original e na fragmentação dos ecossistemas naturais no sudeste brasileiro. E a relação entre produção e conservação e o papel da ciência nesse equilíbrio é o tema central do livro Biodiversity in Agricultural Landscapes of Southeastern Brazil, publicado pela editora alemã De Gruyter.

A obra reúne textos de pesquisadores de diferentes instituições sobre as dimensões humanas e biológicas relativas à conservação da biodiversidade em paisagens alteradas do Sudeste do Brasil, contemplando a fauna e a flora.

“O que antes era visto como um conflito, a relação entre produção e conservação, hoje se apresenta como uma interdependência. Mas, para que essa relação ocorra de maneira equilibrada, é preciso conhecer em profundidade a biodiversidade dessas paisagens agrícolas, contribuindo para o desenvolvimento da agricultura e também para a conservação das espécies”, disse Luciano Martins Verdade, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), membro da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA-Fapesp), em entrevista ao jornalista Diego Freire, da Agência Fapesp. Luciano é também um dos editores do livro.

Grande parte dos estudos presentes na obra foram realizadas no âmbito do BIOTA-Fapesp, que também é voltado essencialmente para o conhecimento, mapeamento e análise da biodiversidade do estado, incluindo a fauna, a flora e os microrganismos.

O programa também se dedica à avaliação das possibilidades de exploração sustentável de plantas ou de animais com potencial econômico e subsidia a formulação de políticas de conservação. “Graças ao conhecimento acumulado ao longo de inúmeras dessas pesquisas foi possível apresentar uma revisão histórica dos processos que mudaram a paisagem no estado de São Paulo e que seguem provocando importantes transformações”, completou Luciano.

 

Acesso aberto e gratuito

Disponível tanto em acesso aberto para download gratuito e na íntegra no site da editora quanto em exemplares impressos para compra, o livro traz um pouco da história da agricultura na região, da conservação da biodiversidade das florestas e de sua restauração ecológica em paisagens altamente modificados. Com 342 páginas e dividida em 17 capítulos, a obra está organizada em três partes: dimensões humanas, dimensões da biodiversidade e estudos de casos.

Na primeira parte, os autores abordam assuntos como as facetas da paisagem agrícola, o papel da agricultura familiar na conservação ambiental, o agronegócio e os impactos da construção de estradas. Na segunda parte são contemplados os microrganismos do solo, tecnologias de sequenciamento genômico, técnicas biogeoquímicas para avaliação da qualidade da fertilidade do solo e aspectos relacionados à biomassa microbiana, entre outros.

Na última parte, são apresentados estudos de caso como a geometria de determinadas paisagens e os padrões de queda de folhas em uma região do Sudeste brasileiro, a relação entre a diversidade de aves e o uso da terra em paisagens agrícolas e os padrões alimentares de macacos bugios em uma floresta urbana.

Ainda segundo Luciano, a maioria dos biomas foram intensamente modificados, mas alguns ainda são capazes de preservar uma biodiversidade considerável. “O caminho para um equilíbrio não deve se restringir à biologia, mas também contemplar todas as dimensões humanas envolvidas para que se possa alcançar o ideal de conservação da biodiversidade em paisagens agrícolas”, disse.

 

 

 

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