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Kits de ciência produzidos no Brasil chegam a escolas dos Estados Unidos

Estudantes de ensino médio em frente ao planetário móvel do Cepof.

O astrônomo e divulgador científico norte-americano Carl Sagan costumava dizer que, sem experimentos, a pesquisa científica não teria como progredir. “Executamos experiências para testar nossas ideias”, escreveu no livro Cosmos, publicado em 1980. Se a ciência moderna é baseada em observações e teorias, uma maneira estimulante e divertida de aprender seus conceitos é botando a mão na massa, cometendo erros e acertos, assim como acontece com pesquisadores profissionais.

Em algumas escolas públicas e privadas do país, estudantes do ensino médio têm contato com microscópios e tubos de ensaio em aulas práticas em laboratórios. A maioria das crianças e dos jovens, porém, aprende ciência em aulas expositivas, de frente para a lousa. Um grupo de pesquisadores então pensou: por que não criar mini laboratórios portáteis, que podem ser usados em salas de aula ou em casa?

Em 2007, lançaram os kits de ciência da coleção “Aventuras na Ciência”, um conjunto de caixas contendo materiais simples para reproduzir experimentos em temas como astronomia, biologia, termodinâmica, química e geofísica. Oito anos depois, os kits brasileiros começam a ser adotados em outros lugares do mundo.

“Escolas de países como Estados Unidos, México e Itália estão utilizando nossos kits com estudantes do ensino médio”, diz o físico Vanderlei Bagnato, professor da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos e um dos coordenadores do projeto, que também envolve professores das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Estadual de Campinas (Unicamp).

Em Quito, capital do Equador, cerca de 100 professores foram treinados a ensinar ciência com os kits. Nos Estados Unidos, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) está testando os experimentos em escolas da região. Já na Itália, o kit de óptica, que utiliza prismas e espelhos para demonstrar conceitos básicos da física, como a reflexão da luz, foi usado em eventos do ano passado em comemoração ao Ano Internacional da Luz.

Mais recentemente, o Paquistão e a Tunisia também procuraram o projeto Aventuras na Ciência para levar a experiência brasileira para salas de aula. “Tivemos que começar a fabricar kits com manuais e embalagens em inglês e espanhol”, conta Bagnato.

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Os kits brasileiros conquistam educadores fora do país.

No Brasil, porém, a coisa é mais complicada. Para ganhar escala nacional, os kits de ciência dependem de um acordo de cooperação firmado com o Ministério da Educação (MEC) em 2013, que prevê a distribuição de 1 milhão de kits para mais de 22 mil escolas públicas de todo o país – mas o governo federal ainda não iniciou o projeto.

A coleção de kits não é uma novidade. Talvez seu pai se recorde dos fascículos Os Cientistas, lançados em 1972 por iniciativa do professor Isaias Raw em parceria com a Editora Abril. Eles eram vendidos em bancas de jornal e vinham em caixas de isopor, com experimentos ligados às descobertas de algum cientista conhecido. Junto vinham um folheto com instruções e um livreto biográfico.

Já os kits atuais abordam assuntos variados da ciência e incentivam o aluno a quebrar a cabeça para colocar em prática alguma experiência. O de biologia, por exemplo, estimula a pessoa a coletar materiais à sua volta, como algas, plantas, insetos mortos, gotas de água e pedaços de frutas ou legumes, para serem observados no microscópio.

O kit de astronomia vem acompanhado de um galileoscópio, um instrumento óptico que possibilita a visualização de corpos celestes tal como Galileu Galilei os observou há mais de 400 anos. Com ele é possível observar, por exemplo, as crateras da Lua, as fases de Vênus e os satélites de Júpiter. “Redescobrir a ciência feita à mão, sem muitos recursos digitais, é uma experiência libertadora”, disse Beatriz Barbuy, professora da USP, em reportagem da revista Pesquisa FAPESP, em fevereiro de 2015.

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