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Grande pesquisa usando neuroimagem para entender a epilepsia é publicada
Desvendando a epilepsia

por | 5 mar 2018

Um estudo enorme, envolvendo pesquisadores de vários países, avaliou e comparou a imagem dos cérebros de cerca de 3.800 voluntários. A ideia, como informou a Agência Fapesp era investigar usando técnicas de neuroimagem “as semelhanças e diferenças anatômicas presentes no cérebro de indivíduos com diferentes tipos de epilepsia e, assim, buscar marcadores que auxiliem no prognóstico e no tratamento”.

O Brasil está presente no consórcio internacional de pesquisa, através de uma equipe do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN), sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Trabalho saiu no Brain, um dos mais respeitados periódicos científicos sobre neurologia do mundo

Os resultados do mega-levantamento foram publicados no periódico internacional Brain. “O avanço nas técnicas de neuroimagem tem permitido detectar alterações estruturais no cérebro de pessoas com epilepsia que antes passavam despercebidas”, contou à repórter Karina Toledo, Fernando Cendes, professor da Unicamp e coordenador do BRAINN. “Porém, existiam muitas discrepâncias nos estudos anteriores, que incluíram algumas dezenas ou centenas de voluntários. Nosso objetivo era fazer esse tipo de análise em uma série realmente grande de pacientes para obter dados mais robustos”, disse.

A epilepsia é uma condição que envolve um conjunto de desordens neurológicas, nessas situações, ocorre a alteração temporária do funcionamento cerebral sem uma causa aparente. Para este estudo, foram avaliadas 2.149 pessoas com epilepsia e 1.727 indivíduos sem doença neurológica ou psiquiátrica. A Unicamp ficou responsável pela maior amostragem: 291 pacientes e 398 controles.

Todos os participantes foram submetidos a exames de ressonância magnética. “Isso permite que, com o auxílio de programas de computador, seja feito um pós-processamento das imagens. Elas são segmentadas em milhares de pontos anatômicos, que são avaliados e comparados um a um”, explicou Cendes em entrevista à Agcia Fapesp. O objetivo da análise quantitativa foi identificar regiões do cérebro que estão atrofiadas em relação ao grupo controle.

“A epilepsia de lobo temporal é uma forma focal da doença, ou seja, atinge uma região específica do cérebro. É também o subtipo de epilepsia refratária ao tratamento mais comum no adulto. Sabemos que quando acomete o hemisfério esquerdo produz um quadro diferente e mais grave do que quando atinge o hemisfério direito. São doenças distintas”, ensina. Já a forma generalizada genética, embora atinja o órgão de maneira difusa, costuma ser mais facilmente controlável por meio de fármacos e ter uma evolução menos deletéria para o paciente, disse Cendes.

“Os exames de ressonância magnética comuns não revelam alterações anatômicas nos casos de epilepsia generalizada genética. Um dos objetivos deste estudo era confirmar se também nestes pacientes existiam áreas de atrofia e vimos que sim”, contou.

Os dados iniciais mostraram que os grupos analisados apresentam atrofias em regiões do córtex sensitivo motor e também em algumas áreas do lobo frontal. “Pacientes com mais tempo de doença apresentaram maior área do cérebro comprometida. Isso reforça a hipótese de que, à medida que a doença progride, mais regiões cerebrais vão ficando atrofiadas e mais prejuízos cognitivos aparecem”, explicou Cendes.

As descobertas estão no artigo Structural brain abnormalities in the common epilepsies assessed in a worldwide ENIGMA study e, segundo o coordenador do Brainn, deverão beneficiar as pesquisas na área e, no futuro, terão implicações também no diagnóstico da doença.

 

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