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Especialista em classificar novas espécies está ameaçado de extinção

por | 30 set 2016

Em diversas partes do mundo o taxonomista, biólogo especialista em identificar e classificar a vida no planeta é um profissional ameaçado de extinção. O alerta é da reportagem de Juliana Gragnani, publicada no último dia 25 na Folha de S. Paulo. A ameaça também está no Brasil, com sua megabiodiversidade – apesar de ser um dos países com a maior representatividade de taxonomistas, o número de profissionais ainda é muito menor do que o ideal.

A reportagem apurou que os cortes em programas de capacitação em taxomia seriam uma das causas do problema no país. Atualmente o investimentos anual do governo na área gira em torno de R$ 1 milhão, representando apenas 0,02% do orçamento anual destinado para ciência, tecnologia e inovação.

A falta desse especialista compromete a identificação de milhões de espécies de animais. Estimativas conservadores contabilizam que os bichos à espera de um nome vão integrar os cerca de oito milhões de seres vivos, sobre os quais nada se sabe – sendo que apenas 2 milhões de espécies estão registradas, só um quinto desse total.

“Ao não conhecer a biodiversidade, abrimos um flanco para que as espécies ameaçadas de extinção, ainda sem nome, não sejam protegidas”, afirma o especialista em anfíbios, Célio Haddad, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), durante entrevista para a reportagem. Ele cita outra perda importante: sem conhecer novas espécies, perde-se um mundo em potencial de princípios bioativos para desenvolver medicamentos. “Somos diretamente afetados.”

Uma das causas apontadas pelo pesquisador é que essa não é uma área da ciência tão atrativa para os estudantes, quanto a bioquímica ou a genética. A outra causa seria a falta de incentivo à pesquisa.

O investimento em um dos principais projetos de incentivo da área, o Programa de capacitação em taxonomia (Protax), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), sofreu cortes. Em 2010, o investimento foi de R$ 19 milhões. Em 2015, R$ 12 milhões. Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o valor ainda pode crescer com a adesão de outras fundações – já houve aporte adicional de R$ 1,5 milhões.

Outro pesquisador consultado, Antonio Carlos Marques, diretor do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (USP) e autor de um estudo de dez anos atrás que indicava a necessidade de ampliar o investimentos na área, disse à reportagem que é preciso haver uma política de Estado que estimule a formação contínua de novos especialistas. Segundo ele há biomas brasileiros que são “um deserto de taxonomistas”, como o mar profundo do Atlântico Sul.

A Amâzonia, região mais diversa do Brasil (berço de 60% das espécies), por exemplo, possui apenas de 12 a 15 taxonomistas atuantes, segundo José Albertino Rafael, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).É o mesmo que ter um profissional para uma área do tamanho do estado do Acre. Para ele, nós já perdemos essa guerra, uma vez que a “destruição é muito mais rápida do que a nossa capacidade de estudo”.

Como é o trabalho de um taxonomista

Os cientistas identificam uma nova espécie por comparação, basicamente. Pesquisadores colhem amostras de uma população e analisam sua morfologia (cor ou forma, por exemplo), seu comportamento e genética, entre outros aspectos. Eventuais diferenças apontarão se representam uma nova espécie.

Célio Haddad, o especialista em anfíbios, já identificou cerca de 50 espécies da classe. Foi a cor vermelha do Brachycephalus pitanga, o “sapinho-pitanga”, de cerca de 1 cm, por exemplo, que o diferenciou de animais com características semelhantes.

O sapo é endêmico da Mata Atlântica, diz o pesquisador, “e desaparecerá com o desmatamento da floresta e com o aquecimento global, pois necessita de temperaturas amenas para sobreviver”.

Leia a íntegra da reportagem no link: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2016/09/1816443-biologo-especialista-em-classificar-especies-esta-ameacado-de-extincao.shtml

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