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Empresa de biotecnologia norte-americana vai digitalizar odores

Maria Fernanda Ziegler, de Nova York (EUA) | Agência FAPESP

 

A empresa de biotecnologia MouSensor, Inc., spin-off da City University of New York (CUNY), está desenvolvendo uma plataforma para digitalizar os odores percebidos pelo olfato humano.

“A mesma coisa que o Google fez pelos dados, queremos fazer pelo olfato. Eles organizaram a informação e a tornaram acessível. Nós queremos estabelecer a primeira base de dados digital do olfato”, disse Paul Feinstein, professor associado da CUNY e diretor da MouSensor, durante palestra na FAPESP Week New York.

O encontro, realizado na City University of New York (CUNY) de 26 a 28 de novembro de 2018, reuniu pesquisadores brasileiros e norte-americanos com o objetivo de estreitar parcerias em pesquisa.

Feinstein tem um amplo estudo acadêmico na área de olfato desde 1986. Em artigo publicado na revista Cell, em 2016, sua equipe descreve o desenvolvimento de camundongos transgênicos com o olfato apurado. No estudo, os pesquisadores introduziram o gene receptor de odor no DNA dos camundongos. Dessa forma, eles podem ser sintonizados para ter diferentes níveis de sensibilidade a qualquer odor.

O desenvolvimento dos camundongos superfarejadores serviu de base para a criação do que a empresa chamada de tecnologia “nose-on-a-chip”, capaz de detectar odores. “A empresa tem dois objetivos principais: decodificar o olfato humano e usar o olfato como base para o diagnóstico de doenças como Parkinson, tuberculose e câncer, por exemplo”, disse.

Feinstein conta que o segundo objetivo da empresa foi ideia de sua orientanda de pós-doutorado Charlotte D’Hulst. Ela é primeira autora do artigo da Cell. “Talvez por isso ela seja a CEO da empresa e eu, o CSO [Chief Science Officer]”, disse.

Na palestra, o pesquisador contou que o odor pode servir de indicador para uma série de doenças. “Hoje é possível diagnosticar tuberculose pelo odor. Parentes de pacientes com Parkinson já relataram alteração no odor desses pacientes anos antes de eles apresentarem os primeiros sintomas da doença”, disse.

Dessa forma, seria possível avançar no que Feinstein costuma chamar de Odorômica. “Embora os receptores de olfato tenham sido identificados em 1991, ainda não é bem compreendido como o sistema olfativo se liga. Apenas 10% de todos os receptores de olfato humanos têm um ligante conhecido. Não avançamos nada. Na verdade, ainda estamos na idade da pedra. A razão para esse atraso é que os receptores de odores são notoriamente difíceis de se expressar fora do seu ambiente nativo”, disse.

Em 1991, os pesquisadores americanos Linda Buck e Richard Axel resolveram o mistério de como o cérebro é capaz de reconhecer e distinguir um entre mais de 10 mil odores diferentes ao identificar os receptores de olfato. A descoberta rendeu o Prêmio Nobel de Fisiologia em 2004.

De acordo com a descoberta, mamíferos têm uma série de neurônios sensoriais em seus narizes, cada um deles equipado com um único sensor químico chamado receptor, que detecta um odor específico. Nos ratos, como nos seres humanos, cada neurônio seleciona apenas um receptor. Coletivamente, os neurônios escolhem uma distribuição uniforme dos receptores, de modo que cada um dos mil receptores distintos é representado em 0,1% dos neurônios.

“Estamos desenvolvendo a ferramenta para resolver um problema de 30 anos no campo da Odorômica, a decodificação do olfato. Podemos traduzir em um chip e identificar uma assinatura para cada tipo de cheiro no planeta”, disse.

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