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De cientista para jornalista: guia ajuda pesquisadores a se comunicarem
Divulgação científica

por | 15 jan 2019

A jornalista Luiza Caires

A Superintendência de Comunicação Social (SCS) da Universidade de São Paulo (USP) lançou neste mês o guia De cientista para jornalista – noções de comunicação com a mídia (disponível gratuitamente para download aqui) para orientar pesquisadores na tarefa cada vez mais exigida de divulgar seus trabalhos para um público mais amplo. Bastante didático e de leitura fluida, o material, escrito por Luiza Caires e Aline Naoe, começa com um passo a passo voltado para os cientistas da própria USP, que explica como devem fazer para aproveitar os canais de comunicação internos da instituição.

Na seção seguinte, o guia resume o que é o jornalismo científico, o que interessa aos diferentes tipos de veículo, como os repórteres e editores trabalham e o que os cientistas podem fazer para facilitar o trabalho da imprensa para que suas pesquisas sejam divulgadas de forma correta e interessante a distintos públicos e nos diferentes meios (texto, rádio, vídeo). Por fim, o guia apresenta casos de pesquisadores que vêm tendo êxito em se comunicar diretamente com o público pelas redes sociais. Ao longo de toda a publicação, há breves citações de comunicadores e cientistas sobre os temas abordados.

Confira abaixo a entrevista que o Ciência na Rua fez, por e-mail com Luiza Caires, uma das autoras do guia.

 

Esse guia foi inspirado em alguma outra publicação?

Aline Naoe, também autora do guia

Especificamente em uma não, mas parte das orientações foi selecionada e adaptada, além da minha vivência e entrevistas com colegas jornalistas, dos materiais que estão indicados nas referências – muitos deles de instituições e autores norte-americanos, já que os EUA têm uma tradição mais antiga de preocupação por parte de cientistas e universidades quanto à divulgação de ciências e ao cultivo do bom relacionamento com a mídia e os jornalistas. No guia, cito materiais da Brown University e, do Brasil, da UnB e Fiocruz, que aliás se destaca bastante no país neste campo.

Lendo o guia, fica claro que o público-alvo primário são pesquisadores da própria USP. No entanto, por ser bastante didático, me parece que pode servir também para cientistas de outras instituições e talvez mesmo para jovens que queiram se aventurar no jornalismo científico. Existe essa intenção de atingir públicos mais variados, inclusive além dos que mencionei?

Na verdade, escrevemos o guia pensando em atingir cientistas de uma maneira geral, e só depois optamos por acrescentar alguns conteúdos para focar mais especificamente na Comunidade USP, e poder lançá-lo aqui na Universidade, como uma iniciativa institucional mesmo. Mas certamente continua podendo ser aproveitado por pesquisadores em qualquer instituição.

Você nota algum avanço significativo recente na preocupação dos cientistas brasileiros, não exclusivamente os da USP, em divulgar suas pesquisas?

Sim, essa preocupação é crescente, e o sucesso do guia (que temos aferido pelo interesse demonstrado pela comunidade acadêmica e pelos bons retornos que recebemos) é uma entre outras testemunhas disso. Não deixa de ser curioso que, no País, isso aconteça num momento em que a mídia tradicional passa por uma grande crise e busca se reinventar. Mas, como ressalto no guia, o que é mais fundamental na divulgação científica, seus pressupostos, não irão mudar muito.

E para além da mídia tradicional, temos o fenômeno dos cientistas que fazem divulgação direta para o público em canais como Youtube, mídias sociais e podcasts (estes últimos vivendo um autêntico boom nos últimos dois anos). Se antes eram apenas alguns poucos e famosos – e por isso vistos como “influenciadores” – agora o fenômeno se difundiu e a produção de conteúdos se popularizou, principalmente entre quem está começando na ciência, como graduandos, alunos fazendo iniciação científica.

Vale observar que, nesta profusão de conteúdo e informação, temos alguns produzindo com mais qualidade, outros menos, muitos deles ainda aprendendo a fazer, mas certamente todos os esforços são válidos, considerando que, até pouco tempo atrás no Brasil, nem mesmo as instituições (em sua maioria) se preocupavam muito com a divulgação.

Como é essa preocupação por parte dos cientistas em outros países? Que bons exemplos você mencionaria?

Nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e em países da Europa, há tantas iniciativas envolvendo divulgação científica por parte de universidades que fica até difícil mapear, mas em geral é raro encontrar uma universidade ou instituição que se destaque na produção científica e faça um trabalho ruim com a mídia.

Além do mais, especula-se que, nos Estados Unidos, a recrudescência de um conservadorismo que põe em questão evidências científicas já consolidadas pode ter “cutucado” os cientistas adormecidos e feito com que intensificassem seus esforços de passar uma mensagem clara às pessoas. Pelos últimos debates públicos envolvendo ciência aqui no Brasil, é possível que tomemos um rumo semelhante.

Mas como destaque eu citaria o trabalho de uma instituição de um país com mais semelhanças históricas/econômicas com o nosso, que é o México. A UNAM – Universidad Nacional Autónoma de México. Mídias sociais podem não ser a única nem a melhor métrica para avaliar isso, mas uma Universidade (e não uma rede de mídia ou uma celebridade) alcançar três milhões de seguidores em redes sociais (3 milhões no Twitter e 3 milhões no Facebook – Harvard, por exemplo, tem 5 milhões) não é um evento a ser desprezado. Aparentemente, as pessoas a têm como referência informativa.

Outros bons exemplos podem ser encontrados em museus de ciências ao redor do mundo, como os do The Smithsonian Institution. Seus profissionais, até pela natureza da sua atividade, sabem fazer popularização da ciência, então encontramos muitos bons conteúdos gerados por eles.

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