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Conhecimento não basta para eliminar a crença no determinismo genético
Derrubando preconceitos

por | 2 fev 2018

 

Cabeçalho do artigo

Os primeiros resultados de um projeto de pesquisa do Laboratório de Ensino, Filosofia e História da Biologia da UFBA (LEFHBio) — que tem no questionário “Percepção Pública e Atitudes em relação à Genética e Genômica” (PUGGS) uma ferramenta fundamental — foram divulgados, no final de dezembro, pela Science & Education, importante periódico científico da área de história, filosofia e ensino de ciências. O artigo contendo tais resultados, “Exploring Relationships Among Belief in Genetic Determinism, Genetic Knowledge, and Social Factors” (ou, em tradução livre, “Explorando relações entre crença em determinismo genético, conhecimento genético e fatores sociais”) reflete o trabalho de uma equipe internacional de cinco pesquisadores* e, entre suas conclusões, está a de que o nível de conhecimento das pessoas sobre genética contemporânea e genômica, mostrado pela coleta de dados via PUGGS, não explica o grau de sua crença ou descrença no determinismo genético.

“Isso significa, em outras palavras, que conhecimento não é o suficiente para eliminar crenças em determinismo genético”, diz Charbel El-Hani, professor do Instituto de Biologia da UFBA e um dos pesquisadores envolvidos no projeto.

O questionário que permite inferências nesse sentido divide-se em cinco seções que levantam informações básicas do respondente e sondam sua crença no determinismo genético, seu conhecimento sobre a interação gene/ambiente, conhecimento sobre genética contemporânea e genômica e atitudes em relação às aplicações da genética moderna e da genômica.

“É um bom instrumento para medir conhecimento, crenças e relações. Estamos organizando um segundo artigo com os dados obtidos de relações entre atitudes com conhecimentos e crença no determinismo genético, que posteriormente serão cruzados com os dados de conhecimento e crenças”, conta Charbel.

Inicialmente o questionário foi aplicado aos alunos ingressantes nos bacharelados interdisciplinares da UFBA com o intuito de obter uma amostragem de jovens da população de uma capital brasileira, que conclui o ensino médio e ingressa na universidade. Entretanto, os resultados mostraram uma diferença significativa no grau de crença quando se referia a traços biológicos comparativamente os traços sociais. “As pessoas tenderam a uma crença mais determinista com relação a características físicas do que às mentais e comportamentais”, segundo o pesquisador.

Uma das autoras do artigo, a doutoranda Neima Alice Menezes Evangelista, comemora os avanços da primeira etapa. “Os resultados ajudarão a entender melhor como as pessoas estão compreendendo a genética e o que as leva a pensar ou não de forma determinística. Isso vai possibilitar um aperfeiçoamento na forma como se ensina genética e no modo como as mídias comunicam sobre genética”, diz.

O resultado está muito próximo daquilo que a literatura existente já aponta, mas Neima destaca que, no novo estudo, a existência de “problemas éticos, políticos e sociais” relativamente às características mentais e comportamentais são maiores do que os registrados em relação às características físicas. “Há uma complexidade muito grande envolvendo as relações entre genética, genoma e o ambiente e nosso objetivo é tornar isso mais claro para que o determinismo genético não afete o comportamento social”, observa.

A pesquisa também mostrou que homens adultos jovens tenderam a crer mais em determinismo genético, enquanto pessoas que se declararam muito religiosas tenderam a uma crença maior em determinismo genético acerca das características social e mental. “É um resultado já encontrado por outros autores que reforça uma conexão entre uma visão de mundo fatalista e uma interpretação determinista’, diz  Charbel.

O próximo passo do estudo será ampliar a amostragem, aplicando o questionário a parcela da população com nível superior completo. O público alvo escolhido foi a comunidade médica, dada a prática de comunicarem sobre questões genéticas a seus pacientes. Neima acredita que, dados o tamanho e a diversidade dessa comunidade, nessa etapa se terá a maior aplicação do questionário, “Teremos que ir a feiras e congressos médicos de diferentes especialidades e convencer os profissionais a responderem o questionário. Vai ser desafiador”, comenta.

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*O primeiro autor do artigo é Niklas Gericke e são co-autores Charbel El Hani, Rebecca Bruu Carver, Jérémy Castéra, Neima Alice Menezes Evangelista e Claire Coiffard Marre. “Exploring Relationships Among Belief in Genetic Determinism, Genetic Knowledge, and Social Factors” foi apresentado no encontro de perspectivas do ensino genético ocorrido no final de 2017, em Genebra, Suíça e publicado na edição especial da Science & Education que reuniu os artigos deste encontro.

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