jornalismo, ciência, juventude e humor
Astrônomos da USP recorrem a financiamento coletivo para viagem a observatório
Financiamento à Ciência

por | 16 jul 2018

Um grupo de 13 pós-graduandos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) está tentando levantar recursos para uma visita ao ESO (Observatório Europeu no Sul, na sigla em inglês), no Chile. Devido à atual situação precária de financiamento a atividades científicas no país pelas vias oficiais, o grupo, formado por alunos do professor Jorge Melendez na disciplina Astrofísica Observacional, optou por organizar um financiamento coletivo. Até o momento, conseguiram pouco mais de metade dos R$ 25.000,00 necessários e têm até o dia 8 de agosto para completar a coleta (veja aqui). O Ciência na Rua conversou com a mestranda Lilianne Nakazono, uma das organizadoras da iniciativa.

 

O que o grupo de vocês estuda exatamente?

Como somos uma turma de uma disciplina ida como básica pra pós-graduação, nossas áreas de estudo são bem variadas. Vou dar alguns exemplos: eu aplico métodos estatísticos e computacionais em dados observacionais, com o objetivo de detectar novos quasares, que são importantes objetos para se entender o início do Universo. O Henrique Volpato trabalha diretamente com instrumentação, o projeto dele tem como objetivo caracterizar as fibras ópticas que serão usadas no GMT, um telescópio gigante no qual o Brasil tem participação e que está em fase de desenvolvimento. A Natália Andrade estuda os mecanismos de aquecimento do disco em torno de estrelas jovens. E por aí vai.

 

Por que é importante a ida ao ESO?

Adquirir conhecimento e prática na obtenção e redução de dados, além de obter uma noção do funcionamento em si de um observatório, é essencial para nossas pesquisas. A maioria de nós trabalha diretamente com dados obtidos em observatórios e, inclusive, eu acabei de ter uma proposta de pedido de tempo aceita no observatório SOAR (também no Chile) e a Thayse teve proposta aceita no próprio ESO e também no GEMINI. Em todos os casos nem chegaremos perto dos telescópios, hoje em dia a maioria das observações são feitas remotamente ou em modo serviço (ou seja, eles observam e você recebe os dados). Por consequência desse distanciamento, eu diria que é natural termos mais dificuldade em entender o impacto das limitações observacionais nos nossos resultados científicos, o que é algo realmente crucial na hora de fazer pesquisa.
Bom, em suma, o que adquirirmos nessa viagem será uma experiência que levaremos pra vida toda e trará impacto direto nas nossas carreiras como pesquisadores e, claro, na produção de ciência no Brasil.

 

Por que não conseguiram financiamento pelas vias tradicionais?

Os cortes que a ciência vem sofrendo nesses últimos anos pelo nosso governo tem nos afetado diretamente. Dado aos poucos recursos do nosso instituto, uma viagem didática como esta tem menos prioridade do que bolsas de pesquisa e viagens a congressos/workshops, o que ao meu ver está certíssimo, afinal já estamos numa situação em que está faltando dinheiro para essas duas coisas. Como já citado a importância dessa viagem, achamos que valeria a pena recorrer às outras formas de se conseguir o dinheiro que não fossem pelas vias tradicionais.
Aproveito para pedir que peça aos seus leitores para participarem das marchas pela ciência que têm acontecido em todo o Brasil e assinem a petição contra os cortes nas ciências. Estamos em uma situação crítica em que, se não fizermos nada, daqui a pouco não teremos mais ciência no país.

 

Já tinham recorrido ao crowdfunding antes? Com que resultado?

Sim! O Prof Dr Jorge Melendez já realizou duas vezes para o grupo de pesquisa dele ir a congressos. Da primeira vez eles obtiveram 100% da meta e da segunda vez conseguiram um valor parcial.

 

Como está sendo a receptividade ao financiamento coletivo? Que perfil têm os que contribuem?

Estamos recebendo um acolhimento incrível, não só em relação às próprias doações em si, mas também muitos nos ajudaram a compartilhar mesmo que não pudessem doar. Recebemos contribuições de amigos, familiares, colegas e professores da área acadêmica, astrônomos amadores e apoiadores da ciência em geral. Além disso, recebemos muitas mensagens de apoio e isso nos dá mais forças pra continuar tentando.

 

Vocês veem alguma outra alternativa para o financiamento desse tipo de atividade acadêmica? Têm procurado se informar sobre fontes externas?

Estamos tentando procurar financiamento privado de empresas que poderiam ter interesse em incentivar a ciência e já chegamos a procurar companhias aéreas (dado que as passagens aéreas são a parte mais cara dessa viagem), mas ainda sem sucesso. Inclusive se tiverem alguma sugestão ou dica de quem poderíamos procurar, iremos tentar tudo o que tiver ao nosso alcance.

Compartilhe:

Acompanhe nas redes

ASSINE NOSSO BOLETIM

publicidade