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Asma: poluição por queima de lenha é pior que a de fumaça de cigarro, diz estudo da UFBA

A asma é uma doença respiratória crônica, com origem provável na combinação de fatores genéticos e ambientais, que atinge mais de 300 milhões de pessoas no mundo. A incidência no Brasil é particularmente alta, sendo estimada em 12% para a população adulta e entre 13% e 23% para crianças e adolescentes.

Artigo publicado neste mês pela Clinical and Translational Allergy, revista da Academia Europeia de Alergia, com autoria de Andréia Fernandes, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e outros pesquisadores brasileiros, indica que a exposição à poluição dentro de casa (intradomiciliar) causada por combustão de lenha é mais prejudicial aos asmáticos do que o tabagismo.

O objetivo da pesquisa era justamente avaliar os efeitos dessa poluição e do tabagismo, isoladamente ou combinados, no controle e na gravidade da asma em adultos no Brasil. O método foi uma análise transversal dos dados coletados para um estudo de fatores de risco para asma grave, em que foram incluídos casos graves acompanhados pelo Programa para o Controle da Asma (ProAR) em Salvador e, como controle, casos leves e moderados, recrutados através da divulgação de anúncios em meios de comunicação, áreas e transportes públicos e indicações de outros participantes. “Análise transversal indica uma avaliação de dados obtidos num único momento. Pode ser de uma espirometria [exame do sopro] ou de informações colhidas do paciente no mesmo momento em que realizou a espirometria, mas relativos ao seu passado de exposição a fogão a lenha ou consumo de cigarros”, explica, a propósito, Álvaro Cruz, professor titular da UFBA, criador do Proar e orientador da pesquisa de doutorado vque resultou no artigo. Os participantes responderam a questionários e tiveram amostras de urina coletadas para determinar o nível de exposição à fumaça de cigarro (bastante útil, pois em muitos casos os tabagistas fumam mais do que admitem).

“Foi constatado na nossa amostra que a frequência da exposição à poluição domiciliar pela combustão de lenha é muito maior que a frequência do tabagismo em Salvador”, explicou Fernandes ao Ciência na Rua. O fato impressiona, pois Salvador é a terceira maior metrópole do país. “A exposição ao fogão a lenha ainda é muito comum em países de baixa/média renda como o Brasil e na maioria das vezes está relacionada com a dependência da biomassa como combustível para realização das atividades diárias, é uma prática mais pronunciada em áreas rurais, entre pessoas de baixa renda”, continua.

Das 996 pessoas que participaram da pesquisa, 78 (7,8%) estavam expostas apenas à fumaça de cigarro, 358 (35,9%) estavam expostas à poluição intradomiciliar e 155 (15,6%) estavam duplamente expostas. Entre os fumantes, 43,6% apresentaram asma severa, número que salta a 65,4% entre os expostos apenas à poluição intradomiciliar e a 74,8% entre os duplamente expostos.

Tabela com resultados da pesquisa

De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), entre 2016 e 2017, o número de famílias brasileiras que passou a usar lenha para cozinhar aumentou de 11,1 milhões para 12,3 milhões. Entre julho de 2017 (logo após a alteração da política de preços da Petrobras para o gás de cozinha) e junho de 2018, o preço do botijão subiu 26,91%, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O artigo de Andréia Fernandes, submetido à publicação europeia em agosto de 2018, pode ser encontrado em inglês, no link https://ctajournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s13601-018-0235-6.

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